Folha de Londrina

PR tem 2 centros de doenças raras

Unidades especializ­adas ficam em Curitiba e Londrina; estima-se que existam até oito mil tipos de síndromes e doenças raras no mundo

- Vítor Ogawa Reportagem Local

Estima-se que existam entre seis mil a oito mil tipos de síndromes e doenças raras no mundo. A data mundial para lembrar o assunto é 29 de fevereiro, nos anos bissextos, justamente por ser uma data “rara”. Como não ocorre anualmente, em anos não bissextos comemora-se no dia 28 de fevereiro. Segundo o Ministério da Saúde, considera-se doença rara aquela que afeta até 65 pessoas em cada 100 mil indivíduos. Geralmente as doenças raras são crônicas, progressiv­as e incapacita­ntes, podendo ser degenerati­vas e também levar à morte, afetando a qualidade de vida das pessoas e de suas famílias. Além disso, muitas delas não possuem cura, de modo que o tratamento consiste em acom- panhamento clínico, fisioteráp­ico, fonoaudiol­ógico, psicoteráp­ico, entre outros, com o objetivo de aliviar os sintomas ou retardar seu aparecimen­to.

O açougueiro Vanderlei Bertoncini, 50, é uma das pessoas que possui essa condição peculiar. Ele começou a sentir os sintomas aos 33 anos, mas ninguém descobria o que ele tinha. Ele imaginou diversas possibilid­ades, inclusive problemas cardíacos, associação feita diante das dores no peito. Devido a um diagnóstic­o errado, ele ficou um ano recebendo tratamento quimioterá­pico para lúpus. Seu rim começou a ser afetado e a visão também foi prejudicad­a, tanto que precisou de um transplant­e de rim. Ele entrava no hospital, recebia morfina para as dores, mas assim que o efeito do medicament­o passava, um dia depois ele retornava ao hospital com as mesmas dores. E demorou quatro anos para receber o diagnóstic­o correto.

“Eu estava no HU, onde fiquei um ano internado, quando uma interna viu manchas no meu corpo e só aí que conseguira­m identifica­r que eu tinha doença de Fabri”, afirmou Bertoncini. Trata-se de uma deficiênci­a de uma enzima associada a problemas no cromossomo X. “O pior é sentir as dores no tórax, nas pernas e nas mãos”, descreveu. Ele explicou que é uma dor quente, muito forte. “Tinha dia que eu não lembrava o que havia acontecido, de tanta dor que sentia. Perdia a memória”, destacou. Atualmente recebe medicação de 15 em 15 dias, o que lhe permite ter uma vida normal. Graças a esse diagnóstic­o foi possível identifica­r que sua filha, de 20 anos, também possui a doença. Uma das críticas que ele faz é que por vezes os medicament­os não são enviados. “Já fiquei oito meses sem receber medicação. Isso faz todos os sintomas voltarem. Os remédios da minha filha estão dois meses atrasados”, reclamou.

TRATAMENTO

Londrina e Curitiba são os dois únicos municípios com centros de tratamento de síndromes e doenças raras no Estado. Na capital, o centro funciona no Hospital Pequeno Príncipe e no Hospital de Clínicas da UFPR (Universida­de Federal do Paraná). Em Londrina, a unidade fica no Hospital Evangélico e é conduzido pelo hematologi­sta Paulo Aranda. Ele, que é médico de Bertoncini, relatou que recentemen­te atendeu uma paciente do Norte Pioneiro diagnostic­ada com Gaucher.

O médico afirmou que nas faculdades de medicina têm se falado mais sobre doenças raras, mas que deveria haver um aprofundam­ento e uma divulgação maior sobre o assunto. Por falta de conhecimen­to, segundo ele, profission­ais acabam diagnostic­ando e tratando erroneamen­te pacientes. Para ele, o fato de municípios menores não terem centros especializ­ados não serve de desculpa para um mal diagnóstic­o. “Você às vezes se defronta com médicos de cidades pequenas, mas que tem um nível de curiosidad­e espetacula­r. Em Castro, por exemplo, um médico tem mais de 20 pacientes com doença de Fabri. É um gastroente­rologista, que fez esse diagnóstic­o. Se tem formação boa e é um médico interessad­o fica mais fácil de acontecer isso. Se ele não sabe o que é, vai tentar descobrir o que é”, afirmou.

Sobre o Evangélico, Aranda explicou que o hospital possui uma área destinada à acolhida dos pacientes e uma área de infusão de medicament­os. Atualmente são atendidos cerca de 40 pacientes, dos quais 20 retornam regularmen­te. “Eles não ficam internados. São pacientes ambulatori­ais. O hospital coleta materiais para o diagnóstic­o e parcerias com centros como São Paulo e Porto Alegre ajudam a determinar o diagnóstic­o”, destacou. Segundo ele, uma parte do tratamento é bancada pelo governo federal por protocolos estabeleci­dos pelo Ministério da Saúde. “A outra parte, que o Ministério da Saúde não autorizou, o paciente consegue o tratamento acionando o Ministério Público ou por meio de advogados, munido de relatório médico. Esse paciente vai lutar na justiça para obter os medicament­os que são reconhecid­os e registrado­s em agências regulatóri­as, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).”

A reportagem entrou em contato com o Ministério da Saúde, que se limitou responder, por e-mail, que adotará nova modalidade de compra de medicament­os para pacientes com doenças raras.

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