Folha de Londrina

Em Brasília, Bolsonaro oferece apoio a Guaidó

Autoprocla­mado presidente interino da Venezuela acenou a um processo de reconcilia­ção nacional

- Ricardo Della Coletta, Talita Fernandes e Gustavo Uribe Folhapress

Brasília

- O autoprocla­mado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, afirmou nesta quinta-feira (28) que “violações de direitos humanos não são anistiávei­s”, mas acenou a um processo de reconcilia­ção nacional e de diálogo que leve à saída do ditador Nicolás Maduro.

“Temos falado de anistia e garantias aos militares que se ponham do lado da Constituiç­ão. Temos falado de anistia e garantia a civis que respeitem o processo democrátic­o, temos falado de justiça de transição”, disse Guaidó após um pronunciam­ento ao lado do presidente Jair Bolsonaro, em Brasília.

“São temas muito polêmicos em qualquer processo, porque também está o lado das vítimas das violações de direitos humanos. Violações aos direitos humanos não são anistiávei­s. Isso não está no cenário”, acrescento­u.

Guaidó respondeu à pergunta de uma jornalista sobre se concordava com a opinião vocalizada pelo vicepresid­ente do Brasil, Hamilton Mourão, de que é necessário oferecer uma “porta de saída” para Maduro. Segundo o vice disse a interlocut­ores, apenas a anistia oferecida até agora por Guaidó é insuficien­te para convencer os militares mais próximos a Maduro a abandoná-lo.

O líder oposicioni­sta citou ainda as transições ocorridas no Chile pós-Pinochet e na própria Venezuela, em 1958, quando a ditadura de Marcos Pérez Jiménez terminou, pa- ra argumentar que o objetivo central de uma mudança de regime deve ser “gerar governabil­idade que permita atender à crise e ao cidadão”. “O que não podemos fazer é viver com ressentime­ntos, porque eles nos prenderiam a um passado e a um presente muito tortuosos”, afirmou.

Questionad­o se ainda havia espaço para diálogo com Maduro, Guaidó disse que foram estabeleci­das sucessivas mesas de negociação nos últimos anos, mas que o chavismo nunca deu condições para que eleições livres fossem celebradas na Venezuela. De acordo com ele, não é possível estabelece­r um “falso diálogo” apenas para que o governo Maduro ganhe tempo.

O líder opositor fez ainda um chamado para que Rússia e China -duas potências que apoiam Maduro- se juntem ao esforço de remover o ditador do poder. Ele citou os interesses desses dois países na Venezuela e disse que vai atuar para que os contratos sejam respeitado­s.

“Todos os convênios e acordos que foram assinados legalmente na Venezuela serão respeitado­s. Hoje Maduro não protege ninguém da fome nem da inseguranç­a. Mas também não protege os investidor­es: como um país ou uma empresa que investiu milhões de dólares na Venezuela consegue recuperar seu investimen­to com uma inflação de 2.000.000%?” A inflação no país sul-americano em crise, na verdade, já chegou a 10.000.000%.

Durante o pronunciam­ento ao lado de Bolsonaro, o líder antichavis­ta apresentou diversos dados para ilustrar a crise social que assola a Venezuela. “Há 300 mil venezuelan­os em risco de morte pela emergência humanitári­a completa”, disse Guaidó. Ele argumentou ainda que o PIB (Produto Interno Bruto) sofreu uma contração de mais de 50% nos últimos anos e que Caracas é a cidade mais violenta do mundo.

Juan Guaidó disse ainda que retornará à Venezuela, no mais tardar, até a próxima segunda-feira (4), mesmo diante das ameaças feitas por Maduro. “Como sabem, eu recebi ameaças pessoais e a familiares, mas também ameaças de prisão por parte do regime de Maduro. Mesmo assim, isso não vai evitar o nosso retorno à Venezuela, no fim de semana ou, no mais tardar, na segunda-feira”, declarou a jornalista­s.

Guaidó saiu da Venezuela no último fim de semana pela fronteira com a Colômbia para participar da tentativa frustrada de envio de ajuda humanitári­a coordenada pelos Estados Unidos. Ao deixar seu país, ele desafiou uma ordem judicial emitida pelo regime chavista, que o havia proibido de viajar ao exterior.

Maduro afirmou que Guaidó deverá prestar contas à Justiça se retornar à Venezuela.

Na visita que realiza a Brasília, Guaidó participou também na manhã desta quinta de uma reunião com embaixador­es europeus. Depois, almoçou na residência oficial da embaixada do Canadá.

Presidente da Assembleia Nacional (órgão legislativ­o controlado pela oposição), Guaidó disse que viajará ao Paraguai antes de retornar a Caracas, para se encontrar com o presidente Mario Abdo. Ele deve seguir diretament­e do Brasil para Assunção nesta sexta-feira (1º).

Todos os convênios e acordos que foram assinados legalmente serão respeitado­s”

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Sérgio Lima/AFP
 ?? Sergio Lima/AFP ?? “Temos falado de justiça de transição”, disse Guaidó após um pronunciam­ento ao lado do presidente Jair Bolsonaro, em Brasília
Sergio Lima/AFP “Temos falado de justiça de transição”, disse Guaidó após um pronunciam­ento ao lado do presidente Jair Bolsonaro, em Brasília

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