Bairros derrotados pelo mosquito
Por que a zona sul de Londrina concentra a maior parte dos casos de dengue no município é uma pergunta ainda sem resposta. A prefeitura não quis arriscar opinando por um motivo ou por uma causa específica. À reportagem da FOLHA, a diretora de Vigilância em Saúde da secretaria, Sonia Fernandes, lembrou que a região sul registrou um caso importado em novembro de 2018 e, esse fato, associado à situação de vários focos, fez com que a presença do vetor se espalhasse. Mas ao percorrer as ruas de alguns bairros que fazem parte da abrangência da UBS (Unidade Básica de Saúde) do Itapoã, a FOLHA encontrou muitas situações que favorecem a proliferação do mosquito que transmite a dengue, o Aedes aegypti: sujeira e entulho em diversos pontos, inclusive quintais, mato alto em terrenos vazios e calçadas, além de veículos abandonados nas vias acumulando água parada.
Ao percorrer os bairros da zona sul, a FOLHA encontra muita gente que teve dengue ou que tem um familiar ou amigo que contraiu a doença recentemente. Compreensível, quando se percebe que dos 190 casos confirmados na cidade, de acordo com o último boletim da secretaria municipal de Saúde, 155 são da região sul, sendo 132 distribuídos em dez bairros da área de abrangência do posto do Itapoã.
Os jardins Cristal, Franciscato, Jatobá, Novo Perobal, Santa Joana, Piazentin, conjunto São Lourenço, parque residencial Campos Elísios e assentamento São Marcos, além do jardim Itapoã, abrigam cerca de 16 mil moradores. A incidência de dengue somando estas localidades é de 975 para grupo de 100 mil pessoas, duas vezes maior do que o necessário para se classificar estado de epidemia, a partir das diretrizes da Organização Mundial da Saúde. Enquanto isso, o centro registrou 14 casos e a zona oeste teve dez ocorrências. A alta incidência elevou a procura de pacientes pelo posto de saúde do Itapoã e obrigou a prefeitura a ampliar o atendimento na unidade até as 23 horas - com casa lotada todas as noites. Duas cidades paranaenses já estão em alerta de epidemia de dengue: Itambé, no Noroeste, e Moreira Sales, no Oeste.
Desde que o Aedes voltou a assombrar o País, há algumas décadas, todo o começo de ano é a mesma coisa: o brasileiro não consegue evitar a triste sensação de derrota para um mosquito que já tinha sido praticamente extinto no Brasil. São taxas inaceitáveis de contaminação que evidenciam o grau de subdesenvolvimento de um povo que sonha em ser grande, mas que não consegue ao menos limpar o quintal da própria casa.