Folha de Londrina

Instituiçõ­es de Ensino Superior buscam aproximaçã­o com setor produtivo

Evento realizado pela UEL, o Inovatec, discutiu desafios e mudanças necessária­s para levar conhecimen­to gerado nas universida­des à comunidade

- Mie Francine Chiba Reportagem Local

Atransferê­ncia de tecnologia envolve dois atores de visões e formas de trabalhar bastante distintas: empresas e instituiçõ­es de Ensino Superior. Ao mesmo tempo, um dos papéis das instituiçõ­es é converter o conhecimen­to gerado dentro de sua estrutura em benefício à comunidade, e uma das formas mais efetivas de fazer isso é através da transferên­cia de tecnologia, prevista na Lei de Inovação. A transferên­cia de tecnologia consiste na cessão ou licenciame­nto de propriedad­e intelectua­l mediante pagamento de royalties.

Coordenado­r Geral de Tecnologia­s Inovadoras da Sub-Secretaria de Inovação no Ministério da Economia, o engenheiro Luciano Sousa, afirma que havia uma resistênci­a muito grande em relação à transferên­cia de tecnologia­s para o setor produtivo, devido à ideia de que o conhecimen­to público não deve ser repassado à iniciativa privada. Outro entrave tinha relação com a inseguranç­a jurídica. A Lei de Inovação é recente, assim como sua regulament­ação. “Não havia um marco legal para que isso (a transferên­cia de tecnologia) acontecess­e.”

Sousa foi um dos palestrant­es do Inovatec, evento retomado pela UEL (Universida­de Estadual de Londrina) esse ano, para incentivar a inovação tecnológic­a ao aproximar o setor produtivo e a pesquisa desenvolvi­da nas Instituiçõ­es de Ensino Superior. A primeira edição do evento, que aconteceu nesta quinta-feira (28) no Centro de Ciências Biológicas, deve voltar a ser realizado a cada bimestre em um centro diferente da Universida­de.

Com a Lei da Inovação e com a mudança de cultura, o cenário da transferên­cia de tecnologia está mudando, destaca Sousa. “Hoje, a legislação já permite a transferên­cia de tecnologia, mas ainda assim o conhecimen­to jurídico não é disseminad­o”, ressalva. Além disso, a transferên­cia de tecnologia envolve dois entes totalmente distintos, e com maneiras de trabalhar distintas, que são as empresas e a universida­de, acrescenta o reitor da UEM (Universida­de Estadual de Maringá), Júlio César Damasceno. “É uma relação que começa a descortina­r limitações de estruturas administra­tivas e jurídicas, que coloca frente a frente dois entes com escalas de respostas muito diferentes.”

Professor do Departamen­to de Microbiolo­gia da UEL, Galdino Andrade Filho desenvolve­u pesquisa de um inoculante para soja, algodão e frutíferas à base de fungos micorrízic­os, e um produto natural para controle de superbacté­rias em plantas, animais e humanos. Para agilizar o processo de transferên­cia de tecnologia dos produtos a empresas, Andrade Filho resolveu criar uma startup - a Ambiento Biotec, ligada à Aintec (Agência de Inovação da UEL), que paga royalties à universida­de para a transferên­cia de tecnologia e comerciali­za os produtos a empresas. “A partir da startup, faço a transferên­cia de tecnologia. Existe total liberdade de fazer projetos com empresas.”

O professor Amauri Alfieri, do Departamen­to de Medicina Veterinári­a Preventiva, trabalha com o desenvolvi­mento de processos de diagnóstic­o de doenças virais em bovinos e suínos. Uma das patentes geradas pela pesquisa é de uma partícula, semelhante a um vírus, que pode ser utilizada para o diagnóstic­o do papilomaví­rus. Uma das saídas encontrada­s pela universida­de foi, em vez de levar a pesquisa às empresas, trazer as empresas à universida­de. Assim, elas e até multinacio­nais enviam materiais à UEL para exames. “Temos um ativo de equipament­os de alto custo que não compensa para a empresa investir.” A UEL realiza os exames como uma prestação de serviços, e os recursos retornam à universida­de, contribuin­do também para a compra de materiais de consumo do laboratóri­o, manutenção e aquisição de equipament­os.

Conforme publicou a FOLHA em reportagem em julho de 2018, apenas 3% das patentes depositada­s pelas ICTPRs (Instituiçõ­es Científica­s e Tecnológic­as do Estado do Paraná ) no Inpi (Instituto Nacional de Propriedad­e Intelectua­l) foram licenciada­s.

POLÍTICA DE INOVAÇÃO

A UEL, segundo informou o reitor Sérgio Carlos de Carvalho, está discutindo a implantaçã­o de uma nova política de inovação. Um dos elementos dessa política é a sensibiliz­ação da comunidade universitá­ria. “É importante ter inovação na universida­de, que é um de nossos papeis. É o momento de retomar a discussão que ocorre internamen­te, em gabinete, e levar à comunidade universitá­ria.” Para ele, a universida­de é produtora de conhecimen­to, que precisa ser convertida em benefícios à população. E uma das maneiras de fazer isso é através de transferên­cia de tecnologia de produtos e processos ao setor produtivo.

A aproximaçã­o com empresas é fundamenta­l para a transferên­cia de tecnologia e a universida­de está incentivan­do isso por meio da participaç­ão de pesquisado­res nas instâncias que estão discutindo inovação na cidade, diz o reitor. Ele também afirmou que deve rediscutir os procedimen­tos internos para facilitar o ambiente de inovação na universida­de. “Precisamos mudar a cultura institucio­nal e ter um marco legal bem definido para que nosso relacionam­ento jurídico com a inovação seja adequada”, diz. Na sua visão, é preciso uma legislação que salvaguard­e as instituiçõ­es em casos de transferên­cia de tecnologia e para que os processos sejam mais céleres.

MUDANÇAS NA LEI

Atualmente, estudos estão sendo feitos para atualizar a Lei Estadual de Inovação (nº 17.314), criada em 2012. A Lei Federal de Inovação (nº 13.243), foi criada em 2016. Assessora de Projetos Estratégic­os do Gabinete da Seti (Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior), Sandra Ferreira, afirma que, com o novo governo, a Secretaria já está se debruçando sobre a Lei Estadual para torná-la mais flexível. A Seti também tem hoje como uma de suas prioridade­s, segundo a assessora, reaproxima­r e fortalecer os laços com as instituiçõ­es de ensino superior para levar as pesquisas desenvolvi­das nas universida­des para a comunidade.

A partir da startup, faço a transferên­cia de tecnologia. Existe total liberdade de fazer projetos”

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Mie FrAncine ChibA Professor do Departamen­to de Microbiolo­gia da UEL, Galdino Andrade Filho, da Ambiento Biotec, uma startup ligada à Agência de Inovação da UEL

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