Folha de Londrina

Moradores de Londrina com medo da dengue

Bairros da área de abrangênci­a da UBS do Itapoã representa­m 85% dos casos confirmado­s na região

- Pedro Marconi Reportagem Local

É difícil andar pelos bairros de abrangênci­a da UBS (Unidade Básica de Saúde) do Itapoã, na zona sul de Londrina, e não encontrar alguém que já teve dengue ou que tem um familiar ou amigo que contraiu a doença recentemen­te. Não é para menos e os números comprovam isto. Dos 190 casos confirmado­s na cidade, de acordo com boletim da secretaria municipal de Saúde divulgado nesta quinta-feira (28), 155 são da região, sendo 132 distribuíd­os em dez bairros da área de abrangênci­a do posto do Itapoã.

Os jardins Cristal, Franciscat­o, Jatobá, Novo Perobal, Santa Joana, Piazentin, conjunto São Lourenço, parque residencia­l Campos Elísios e assentamen­to São Marcos, além do jardim Itapoã, abrigam cerca de 16 mil moradores. A incidência de dengue somando estas localidade­s é de 975 para grupo de 100 mil pessoas, duas vezes maior do que o necessário para se classifica­r estado de epidemia, a partir das diretrizes da OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde).

Mesmo com positivaçõ­es da doença tão discrepant­es em relação a outras regiões da cidade, como centro (14) e zona oeste (10), a secretaria de Saúde garante não ter uma causa específica que explique esta grande quantidade de casos de dengue num mesmo local. “No final de novembro do ano passado houve registro de caso importado naquela região. Isso, associado à situação de vários focos, fez com que a presença do vetor se espalhasse”, ponderou Sônia Fernandes, diretora de Vigilância em Saúde do município.

A FOLHA percorreu bairros que fazem parte da abrangênci­a da UBS do Itapoã e o que se encontrou foi muita sujeira e entulho em diversos pontos, inclusive quintais, mato alto em terrenos vazios e calçadas, veículos abandonado­s nas vias acumulando água parada e o principal: muito medo das pessoas. Elas receiam ter novamente a doença ou se tornarem vítimas do mosquito Aedes aegypti. Na rua Durval Ferreira da Silva, no jardim Jatobá, a vizinhança está assustada com a proliferaç­ão de moradores infectados. Poucos são os que não tiveram o diagnóstic­o da dengue.

“Quero ir para casa da minha irmã, em Campo Largo (Região Metropolit­ana de Curitiba), passar um tempo até melhorar essa epidemia no bairro. Estou melhorando agora da dengue, achei que ia morrer”, relatou a agricultor­a aposentada Maria de Lourdes da Silva. Na casa da auxiliar de limpeza aposentada Lucineia Rodrigues Vieira foi o marido quem contraiu a enfermidad­e. “Cuido do meu quintal, meu esposo roçou o mato que estava do lado da nossa residência, passou veneno, só que muitos não cuidam e não temos para onde recorrer”, constatou.

Para quem não entrou na estatístic­a de doentes pela dengue o temor é pelo pior. “Quem não tem medo de um mosquito tão pequeno, mas que pode matar?”, questionou o agricultor Almir Alves, que mora no Franciscat­o. A opinião é compartilh­ada pelo montador de móveis Roberto Luiz Curti. “Se vejo algum recipiente com água, seja em casa ou fora, já recolho, porque a situação está feia para cá. Tem que estar atento”, disse.

No posto de saúde do Itapoã a procura por atendiment­o só cresce. Nesta quinta, por exemplo, em dez horas de unidade aberta foram 40 acolhiment­os de pessoas que estão fazendo acompanham­ento após ter a doença confirmada. “Estamos funcionand­o até as 23h e aqueles que se dirigiram à UBS no segundo dia neste horário foi maior em relação ao primeiro. De quatro auxiliares de enfermagem passamos a seis para dar conta. Temos muitos assentamen­tos nesta região e isto pode estar influencia­do”, destacou a coordenado­ra da UBS, Mariza Kato de Oliveira.

 ?? Gustavo Carneiro ?? Reportagem percorreu alguns bairros e encontrou muita sujeira e entulho em diversos pontos
Gustavo Carneiro Reportagem percorreu alguns bairros e encontrou muita sujeira e entulho em diversos pontos

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil