Folha de Londrina

Imigrantes chegam ‘por conta própria’ a Goioerê

- Isabela Fleischman­n Reportagem Local

O que preocupa a secretaria de Assistênci­a Social de Goioerê, é que há venezuelan­os que estão vindo espontanea­mente, sem o cuidado da ONG. “O parente está aqui e está bem e chama a família. Acreditamo­s que tem uns 20 que vieram por conta própria desde agosto”, explica Sandra Regina de Souza, chefe do departamen­to de programas sociais da pasta. “Eles chegam com uma mochila nas costas e só. Alguns têm um pouco mais de recurso, alugam uma casa, a gente tenta providenci­ar doações de móveis. Esses também não nos dão trabalho, eles se viram por conta própria”, garante. Mas a demanda do município aumentou. A maior dificuldad­e são as vagas nas creches. “A gente já tinha uma lista de espera. Não estamos conseguind­o incluir os que têm idade de creche porque existe uma lista acompanhad­a pelo Ministério Público e tem que ser seguida.”

Uma demanda alta para um município pequeno. Mesmo assim, Goioerê foi escolhida para recepciona­r os venezuelan­os por conta do espaço ocioso do sítio da Aldeias SOS. Eram casas onde antes funcionava o acolhiment­o de crianças e adolescent­es. Com o reordename­nto dos serviços, as crianças e adolescent­es não poderiam mais ficar na aldeia. “Para ficarem menos rotulados como os meninos do acolhiment­o. Hoje eles estão em casas regulares.”

Por enquanto, não houve impacto expressivo nas taxas de desemprego na cidade. Mas a preocupaçã­o cresceu com a demanda. Uma goioerense diz que receber os venezuelan­os é bom, mas também tem um lado ruim. O filho dela procura o primeiro emprego e agora compete com os estrangeir­os. “Para quem procura o primeiro emprego não tem e para venezuelan­o tem?”, questiona. Só uma venezuelan­a refugiada trabalha com a qualificaç­ão que tem, segundo a coordenado­ra da ONG. Outros procuram trabalhos diários, como pedreiros ou em supermerca­dos.

Já uma estudante diz que acha que a cidade deve recepcioná-los e que valoriza o auxílio humanitári­o. “Agora que fecharam a fronteira, não. Mas antes entravam centenas de imigrantes por dia. Os brasileiro­s não estavam recepciona­ndo bem os imigrantes lá. Houve casos de briga, discrimina­ção. Até que chegou um momento que tiveram de fazer alguma coisa e começaram esse processo de interioriz­ação.”

Por meio do convênio com a Acnur, os venezuelan­os vêm com a documentaç­ão em dia. “Esses sabemos como estão chegando, os outros não temos controle.” Por ser uma cidade rural, não há grandes indústrias que gerem muitos empregos. Há opções em uma empresa cooperativ­a de agronegóci­o, outros em tinturaria, fiação.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil