Imigrantes chegam ‘por conta própria’ a Goioerê
O que preocupa a secretaria de Assistência Social de Goioerê, é que há venezuelanos que estão vindo espontaneamente, sem o cuidado da ONG. “O parente está aqui e está bem e chama a família. Acreditamos que tem uns 20 que vieram por conta própria desde agosto”, explica Sandra Regina de Souza, chefe do departamento de programas sociais da pasta. “Eles chegam com uma mochila nas costas e só. Alguns têm um pouco mais de recurso, alugam uma casa, a gente tenta providenciar doações de móveis. Esses também não nos dão trabalho, eles se viram por conta própria”, garante. Mas a demanda do município aumentou. A maior dificuldade são as vagas nas creches. “A gente já tinha uma lista de espera. Não estamos conseguindo incluir os que têm idade de creche porque existe uma lista acompanhada pelo Ministério Público e tem que ser seguida.”
Uma demanda alta para um município pequeno. Mesmo assim, Goioerê foi escolhida para recepcionar os venezuelanos por conta do espaço ocioso do sítio da Aldeias SOS. Eram casas onde antes funcionava o acolhimento de crianças e adolescentes. Com o reordenamento dos serviços, as crianças e adolescentes não poderiam mais ficar na aldeia. “Para ficarem menos rotulados como os meninos do acolhimento. Hoje eles estão em casas regulares.”
Por enquanto, não houve impacto expressivo nas taxas de desemprego na cidade. Mas a preocupação cresceu com a demanda. Uma goioerense diz que receber os venezuelanos é bom, mas também tem um lado ruim. O filho dela procura o primeiro emprego e agora compete com os estrangeiros. “Para quem procura o primeiro emprego não tem e para venezuelano tem?”, questiona. Só uma venezuelana refugiada trabalha com a qualificação que tem, segundo a coordenadora da ONG. Outros procuram trabalhos diários, como pedreiros ou em supermercados.
Já uma estudante diz que acha que a cidade deve recepcioná-los e que valoriza o auxílio humanitário. “Agora que fecharam a fronteira, não. Mas antes entravam centenas de imigrantes por dia. Os brasileiros não estavam recepcionando bem os imigrantes lá. Houve casos de briga, discriminação. Até que chegou um momento que tiveram de fazer alguma coisa e começaram esse processo de interiorização.”
Por meio do convênio com a Acnur, os venezuelanos vêm com a documentação em dia. “Esses sabemos como estão chegando, os outros não temos controle.” Por ser uma cidade rural, não há grandes indústrias que gerem muitos empregos. Há opções em uma empresa cooperativa de agronegócio, outros em tinturaria, fiação.