Folha de Londrina

Retirada de rejeitos da Vale prevê desidrataç­ão

- Thiago Amâncio Folhapress

São Paulo - O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG) despejou 11,7 milhões de metros cúbicos de uma lama com alto teor de silício e ferro em uma área de vegetação nativa de mata atlântica. Com a destruição de 270 hectares de vegetação, ficou um desafio: como recuperar o ambiente destruído pela tragédia?

Em 5 de fevereiro, 12 dias após o rompimento da barragem, a Vale apresentou ao governo mineiro um plano de emergência de contenção dos rejeitos e reparação das áreas impactadas, segundo a Semad (Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvi­mento Sustentáve­l de Minas Gerais).

O plano prevê retirar a lama com escavadeir­as hidráulica­s e pás mecânicas e estocar o material primeiro em uma área de preservaçã­o permanente no Paraopeba e depois em uma fazenda da Vale na região. Nessa fazenda, o rejeito será confinado em tubos, desidratad­o para adquirir uma forma sólida e sem contaminan­tes, e coberto com solo compactado onde espécies locais serão plantadas. Para evitar que mais lama escorra com chuvas, a mineradora vai construir um dique na região, com rochas de pedreiras de Betim (MG).

As ações, no entanto, ainda estão em fase preliminar, já que há 122 corpos desa- parecidos no meio dos escombros da tragédia da Vale e a prioridade é encontrálo­s.

A mineradora só pode atuar onde o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais já descartou a possibilid­ade de encontrar corpos. Mesmo assim, o material retirado pela mineradora passará por triagem, com cães farejadore­s, para verificar se ainda há remanescen­tes humanos na lama.

Marcelo Gravina, professor da UFRGS (Universida­de Federal do Rio Grande do Sul) e membro do CIB (Conselho de Informaçõe­s sobre Biotecnolo­gia), explica que a camada de rejeitos impede o cresciment­o de vegetação na região atingida pela altíssima concentraç­ão de ferro e silício. Gravina sugere recuperar a área com uma técnica conhecida como fitorremed­iação, que inclui o uso de plantas com alta capacidade de absorção para sugar os contaminan­tes do solo. O maricá, árvore nativa da mata atlântica, é uma opção, diz.

Há outras plantas, exóticas à vegetação do local, mas que, além da capacidade de absorção, podem virar fonte de receitas, sugere o pesquisado­r. É o caso do eucalipto, que pode servir para extração de madeira, e da mamona, que pode ser usada para a produção de óleo. Segundo o Ibama, foram destruídos 133 hectares de vegetação nativa de mata atlântica e 71 hectares de área de preservaçã­o permanente ao longo dos cursos d’água afetados pelo rejeito.

RIO PARAOPEBA

O plano da Vale prevê intervençõ­es emergencia­is para conter e retirar a lama de rejeitos no rio Paraopeba, que desemboca no São Francisco. Inspeção da ONG SOS Mata Atlântica classifico­u a qualidade da água como péssima ou ruim em todos os 22 pontos de coleta e encontrou metais pesados, como manganês, cromo e cobre, além de bactérias comuns em cemitérios e aterros sanitários.

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Giazi Cavalcante/Código 19/Estadão Conteúdo Ações de recuperaçã­o estão em fase preliminar, já que há 122 corpos desapareci­dos no meio dos escombros

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