Democracia & militares
Forças armadas dão solidez e segurança à prática da democracia, mas isso não implica em tutela. A fala do presidente no sentido de que democracia e liberdade só existem “quando a sua respectiva Força Armada assim o quer” pegou mal porque pode até ser um pensamento dele, ex-militar, nunca o da instituição, como seus porta-vozes deixaram claro.
De qualquer forma o bate-pronto que se seguiu a mais um impulso verbal é positivo, mostra que não há apenas má vontade com os impulsos presidenciais na torrente de textos, como tentam fazer crer os bolsonaristas, porque estabelecem uma reflexão, da qual não se afastam os próprios militares convocados para uma interpretação mais institucional.
O Brasil tem historicamente uma relação de mediação militar que nos anos 50, século passado, transformavam em tormenta uma simples eleição do Clube Militar em uma definição dos nossos rumos. Comum também derrotados eleitorais fazerem o papel de vivandeiras, mas 1964 não pode ser olhado, simploriamente, como um golpe pela circunstância de que havia uma Guerra Fria e o divisor de águas tinha características geopolíticas e que ganhou fermento com a revolução cubana, o xadrez jogado era mundial.
Claro também que a Cia jogasse pesado pelo outro lado como se viu nas marchas com Deus e a Família pela Liberdade, instrumento ideológico de primeira grandeza e que tornaram sem expressão o desafio nas mobilizações de rua como o comício das reformas da Central do Brasil, a velha confiança no mito das barricadas que a França consagrou.
Dá para perceber que a forte presença militar no governo brasileiro opera mais como fator de equilíbrio institucional ao mesmo tempo em que se afasta o preconceito cultuado no pós 64 contra a farda em função dos desregramentos havidos que poucos estão dispostos a justificar.