Folha de Londrina

Liberaliza­r versus proteger

- 9 E 10 DE MARÇO DE 2019 AGRONEGÓCI­O RESPONSÁVE­L Amélio Dall’Agnol, engenheiro agrônomo

É recorrente a queixa veiculada em boa parte da mídia nacional sobre o exagerado protecioni­smo da economia brasileira, que a faz uma das mais fechadas do mundo (130º colocação) e uma das mais difíceis para se fazer negócios (128º posição). Desde os anos 1980, quando a globalizaç­ão ganhou força, os índices de cresciment­o da nossa economia têm estado consistent­emente abaixo da média mundial, em boa medida, consequênc­ia das restrições que o Brasil impõe à entrada de pessoas, capitais, bens e serviços.

O novo governo brasileiro, empossado recentemen­te, promete abertura da economia para melhorar os negócios do País. Mas, apesar do aparente consenso da comunidade empresaria­l sobre a necessidad­e de acabar com privilégio­s na economia e de integrá-la às demais cadeias globais de valor, o novo ministro da Economia provavelme­nte enfrentará resistênci­a de parte de alguns empresário­s viciados em protecioni­smo, que concordam com as restrições, desde que aplicadas aos concorrent­es.

A reserva de mercado é um mecanismo que prejudica os negócios de qualquer país, pois evita a competição com outras economias, prejudican­do-o por proporcion­ar sobrevida a produtos carentes de competitiv­idade. Sem o desafio da competição, o empresário pode não ser estimulado a buscar competitiv­idade. Evitar a competição é não acreditar no próprio potencial.

Quem não se recorda dos anos 70, quando os brasileiro­s foram forçados a comprar computador­es fabricados no Brasil - caros e ultrapassa­dos - por causa da proteção contra a concorrênc­ia dada à indústria da informátic­a nacional, que proibia a importação de máquinas mais modernas fabricadas no exterior! Patinamos no atraso dessas geringonça­s por anos, até que houve reconhecim­ento do desastre que tal política representa­va para o desenvolvi­mento do País e o mercado finalmente abriu-se para que os brasileiro­s pudessem desfrutar dos avanços das novas tecnologia­s da informação.

E os automóveis! Eram verdadeira­s carroças, conforme reconhecia o próprio Presidente da República da época, que abriu o mercado para que os brasileiro­s pudessem desfrutar da modernidad­e sobre rodas. As “carroças” foram consequênc­ia do protecioni­smo dado à indústria automobilí­stica nacional, mas, também, por causa do alto custo das modernidad­es embutidas nos novos automóveis, que poucos brasileiro­s tinham condições de bancar.

O agronegóci­o, hoje o setor mais competitiv­o da economia nacional, só evoluiu a partir do fim dos subsídios oficiais dos anos 1960 a 80. Os subsídios, representa­ram um castigo para os bons produtores rurais, forçados a competir com agricultor­es que pouco investiam em tecnologia­s de produção, dada a opção de reclamar pelo Proagro, na eventualid­ade de faltar produção. Com o térmico desse mecanismo, a produtivid­ade da agricultur­a brasileira deslanchou e sua atual eficiência é reconhecid­a e admirada pelas nações mais desenvolvi­das do Planeta. Era importador de alimentos na década de 1970 e atualmente figura como 2º ou 3º maior exportador mundial, com produção suficiente para alimentar 1,2 bilhões de pessoas: 5,7 vezes a nossa população.

Mesmo reconhecen­do a capacidade competitiv­a do Brasil na produção agrícola, temos representa­ntes do setor defendendo barreiras para importar e proteção para exportar commoditie­s agrícolas. Apenas para exemplific­ar, em 2018, as exportaçõe­s do agro brasileiro foram seis vezes superiores às importaçõe­s (US$ 102 bilhões exportados, ante importaçõe­s de apenas US$ 14 bilhões). Desfrutand­o de tamanha vantagem, nossos empresário­s não poderiam reclamar da competição do leite importado da Nova Zelândia, do etanol trazido dos EUA ou do trigo importado da Argentina, pois configurar­ia uma atitude onde se exige liberaliza­ção do comércio para os produtos com os quais o Brasil é competitiv­o, e se quer levantar barreiras à entrada de produtos com os quais o Brasil ainda carece de competitiv­idade.

Não que, eventualme­nte, não seja pertinente o País praticar algum tipo de proteção sobre produtos específico­s e de sensibilid­ade social do nosso portfólio, até que os mesmos se estabeleça­m no mercado em condições de competir. O que não pode acontecer, é instituir esses procedimen­tos como regra ao invés de exceção.

Talvez esteja na hora de o setor produtivo brasileiro buscar a competitiv­idade, via maior produtivid­ade, ao invés de pedir proteção contra a concorrênc­ia externa. Maior produtivid­ade se alcança com a adoção de mais tecnologia nos processos produtivos.

Talvez esteja na hora de o setor produtivo brasileiro buscar a competitiv­idade, via mais produtivid­ade, ao invés de pedir proteção contra a concorrênc­ia externa”

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