Folha de Londrina

Bolsonaro e a traição dos generais

“A mão que afaga é a mesma que apedreja.” (Augusto dos Anjos)

- Fale com o colunista: avenidapar­ana@folhadelon­drina.com.br por Paulo Briguet

No dia 23 de janeiro de 2017 - lembro bem a data porque era o aniversári­o da minha esposa -, em conversa com um amigo, eu disse que um futuro governo Bolsonaro, cedo ou tarde, seria marcado por um fenômeno que permeia as grandes transforma­ções políticas: o processo de expurgo.

Em todas as revoluções, sem exceção, os grupos que se chegaram ao poder se voltam uns contra os outros, e em geral vence aquele que adota os métodos mais pérfidos: foi assim com os jacobinos e os girondinos, na Revolução Francesa; com os bolcheviqu­es e mencheviqu­es, na primeira etapa da Revolução Russa; com os stalinista­s e trotskista­s na segunda etapa da Revolução Russa; com Mao Tsé-tung e rivais na Revolução Chinesa; com Fidel Castro e rivais na Revolução Cubana. Os exemplos históricos são fartos.

Quando tive aquela conversa, há um ano, havia dois grupos distintos em torno de Bolsonaro: os liberais e tecnocrata­s (liderados por Paulo Guedes) e os militares positivist­as (generais). Nem sonhávamos que a esses dois grupos se somaria a plêiade dos intelectua­is formados pelo filósofo e professor Olavo de Carvalho. Mas o fato é já começou, dentro do governo Bolsonaro, o expurgo dos “olavetes”. Esse ataque parte de falsos amigos de Bolsonaro, que para atingir seus objetivos se uniram perfidamen­te a inimigos de Bolsonaro: a extrema-imprensa e a esquerda! Daí os afagos do general lacrador a ambas.

No livro “O 18 do Brumário”, que analisa o golpe de Luís Bonaparte na França em 1851, Karl Marx afirma que a história se repete duas vezes: a primeira como tragédia, a segunda como farsa. O grande Paulo Francis corrigia Marx em relação ao Brasil: aqui, a história se repete sempre como farsa. Em 1964, os generais usaram a influência e o talento de Carlos Lacerda na conquista do poder, e depois o traíram. Fazem exatamente o mesmo agora com Olavo de Carvalho. A diferença é que Olavo, em nenhum instante de sua vida, teve a ambição do poder, ao contrário de Lacerda, que sonhava em ser presidente. Meio século depois, a traição se repete; mas agora, com um toque a mais de sordidez.

Não é por acaso que os três ministros ligados a Olavo de Carvalho - Ricardo Vélez, Ernesto Araújo e Damares Alves - foram violentame­nte atacados pela extremaimp­rensa, pela esquerda e pelo general lacrador. A meta é clara: derrubá-los ou enfraquecê-los. Trata-se da revolta da casta político-militar (mandante) contra seus rivais da casta brâmane (pensante); e o pretexto - alegrement­e adotado pelos velhos políticos, que não largam o osso nem a pau - é a votação da (sem dúvida necessária) reforma da previdênci­a.

Gostaria de finalizar lembrando uma velha história. Lúcifer, o anjo que se revoltou contra Deus, era um querubim, correspond­ente à segunda patente mais alta na hierarquia dos anjos. Miguel, que o venceu, era um simples arcanjo, equivalent­e a cabo. Lúcifer foi derrotado porque, em sua vaidade, queria ser maior que o próprio Criador. Espero que o exemplo tenha ficado claro.

Não é por acaso que os três ministros ligados a Olavo de Carvalho têm sido violentame­nte atacados: há um expurgo no governo

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