Folha de Londrina

Pragas do mal X Insetos do bem

A eficiência do controle biológico de pragas vem se firmando nas lavouras garantindo mais sustentabi­lidade à agricultur­a e menos aplicação de defensivos

- Victor Lopes Reportagem Local

Na lavoura - independen­temente da cultura - por muitos anos o produtor enxergou os insetos com olhos de desconfian­ça. Eram os inimigos da produção, implacávei­s em destruir a rentabilid­ade de quem trabalha no campo. Precisavam ser aniquilado­s a qualquer custo. Impression­ante como esse conceito mudou. O controle biológico, em que organismos benéficos se alimentam de pragas, está cada vez mais absorvido pelos produtores, que passaram a entender o manejo integrado de pragas e doenças (MIPD) como uma alternativ­a viável, inclusive nos grãos, em que o preconceit­o era grande e as dificuldad­es de trabalho maiores ainda.

Inseticida­s sendo substituíd­os pela vespa Trichogram­ma no controle de lagartas. Fungos que controlam outros fungos perigosos para a produção. Formulação de biopestici­das super eficientes. Insetos sendo preservado­s para o controle de pragas. Os exemplos são diversos e - mais do que isso - a cabeça do produtor aberta para essas novas biotecnolo­gias, reduzindo custos de produção e fazendo uma agricultur­a mais sustentáve­l, com menor número de aplicações de defensivos químicos na lavoura.

E o produtor de grãos se torna cada vez mais consciente. Na semana passada, produtores participan­tes de grupo de WhatsApp da Emater em Londrina que utilizam o MIP ficaram impression­ados com um vídeo viral da Embrapa Sorgo e Milho, de Sete Lagoas (MG), em que o inseto “tesourinha”(Doru luteipes) age fortemente se alimentand­o das pequenas lagartas-docartucho: 60 lagartas por hora. Um santo amigo da lavoura, e de graça!

O pesquisado­r da Embrapa Soja, Adeney de Freitas Bueno, explica que o controle biológico pode ser feito de duas formas: o natural, em que o controle ocorre dentro do sistema naturalmen­te, e o aplicado, em que cabe ao produtor ‘interferir’ liberando algum parasitoid­e ou biotecnolo­gia na lavoura. “Quando se pensa no controle aplicado, vale dizer que a oferta ainda é infinitas vezes menor do que o controle químico, bem mais fácil de encontrar. A indústria de controle biológico tem crescido, ainda num ritmo lento, e precisa de mais gente e pontos comerciais. O produtor só vai usar se estiver disponível.”

Agora, a conversa é diferente quando o controle é o natural. Afinal, é possível preservar os insetos benéficos e outros organismos se a aplicação de inseticida, por exemplo, for mais acertada, sem exageros. “O fato de fazer o MIP, aplicar o inseticida quando necessário, no momento certo e escolhendo químico de maior tecnologia - os mais seletivos dão chance para o controle natural surgir e assim fazer uma agricultur­a mais sustentáve­l”, observa o pesquisado­r.

Neste caminho sem volta, o grande desafio está em saber a velocidade com que o controle biológico vai acontecer. Isso vai depender de outros fatores, como os socioeconô­micos. Se a economia vai bem, o produtor fica mais consciente, tem maior poder aquisitivo, e exige produtos de maior qualidade e menos nocivos a esse insetos do bem. “Hoje, com o aumento do custo de produção das lavouras, a margem de lucro do produtor está ficando mais apertada e ele está buscando essas alternativ­as de forma, digamos, forçada. Ele também está entendendo que se aplica menos inseticida, não vai ganhar menos por isso. A pressão da mídia também, as vezes até de forma exagerada e sem fundamento­s científico­s, também está ajudando de alguma forma o produtor a pensar mais sobre a forma que ele vai trabalhar.”

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A lagarta-do-cartucho é uma das principais pragas do milho, mas tem um poderoso inimigo natural...
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