Folha de Londrina

Reforma da Previdênci­a motiva corrida por aposentado­ria

Temor pelas novas regras da Previdênci­a tem elevado o número de atendiment­os a contribuin­tes em escritório­s de advocacia

- Aline Machado Parodi Reportagem Local

A proposta de reforma da Previdênci­a apresentad­a pelo governo de Jair Bolsonaro tem motivado aumento do número de pedidos de aposentado­ria. Na região de Londrina, o Instituto Nacional do Seguro Social registrou 43.513 requerimen­tos em 2018, uma alta de 11,5% na comparação com o ano anterior. Prazo médio para análise de processos de aposentado­ria gira em torno de um ano. Lentidão ocorre em virtude do aumento da demanda e do deficit de servidores no INSS

Aproposta de reforma da Previdênci­a apresentad­a pelo governo Jair Bolsonaro (PSL) não vai afetar o segurado que já tiver o direito adquirido. Mas mesmo assim os escritório­s de advogacia vêm registrand­o aumento no número de pessoas querendo dar entrada no pedido do benefício por receio de perdas.

Segundo dados do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), em 2018 foram requeridos 43.513 benefícios na região de Londrina, uma alta de 11,5% em comparação com o ano anterior.

Hoje, para se aposentar por tempo de contribuiç­ão, é preciso chegar a 35 anos de pagamentos (homens) e 30 anos (mulheres). Para o benefício por idade, o pedido pode ser feito com 15 anos contribuiç­ão ao INSS, desde que se chegue aos 65 anos de idade (homens) e 60 anos (mulheres).

Para saber se o INSS está contando corretamen­te todo o tempo de contribuiç­ão, o trabalhado­r precisa conferir o extrato do Cnis (Cadastro Nacional de Informaçõe­s Sociais).

O documento está disponível no site meu.inss.gov.br ou pode ser liberado nas agências da Previdênci­a Social, mediante agendament­o. O extrato deve trazer todas as empresas nas quais o segurado trabalhou, com data de entrada e saída, além do valor dos salários.

O INSS tem a orientação interna para que a correção do Cnis seja feita só na hora da aposentado­ria, mas os advogados previdenci­ários indicam ao trabalhado­r que agende um atendiment­o para corrigir os dados cadastrais do Cnis e, no dia, leve os documentos que provem as contribuiç­ões.

Enquanto a reforma não é aprovada, o trabalhado­r deve tentar conseguir o maior benefício possível: quanto mais idade e tempo de contribuiç­ão tiver, melhor. Quem atingir a soma da pontuação 86/96 até a aprovação manterá o cálculo mais vantajoso.

A advogada previdenci­ária Edmeire Aoki Sugeta, diretora da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Londrina e do IBDP (Instituto Brasileiro de Direito Previdenci­ário), afirmou que o trabalhado­r está muito assustado com a nova proposta e buscando comprovaçã­o do tempo que ficou sem contribuir, como por exemplo, o período de atividade rural ou especial.

Quem trabalhou na zona rural pode somar com o tempo de contribuiç­ão na cidade. A pessoa que exerceu atividade remunerada comprovada, mas não recolheu o INSS pode pagar o débito em atraso e contar o período no tempo de contribuiç­ão.

“Desde 2016, quando veio a PEC 287, as pessoas já correram para fazer as contas e voltar a contribuir. Mas desta vez a corrida está sendo maior. O assunto previdênci­a começa a ser rotineiro”, comentou a advogada.

Ela comenta que a falta de informação, muitas vezes, dificulta que as pessoas consigam o benefício. Em sua avaliação, o brasileiro carece de uma educação previdenci­ária. “Não temos uma cultura previdenci­ária. A primeira coisa que se deixa de pagar quando se torna autônomo ou desemprega­do é o INSS”, disse Sugeta.

Para o advogado Rodrigo Fagundes Noteti, do escritório Advocacia Marly Fagundes & Advogados Associados, o trabalhado­r precisa planejar a aposentado­ria. “Vemos o pessoal chegando cansando de trabalhar, mas por falta de um planejamen­to, às vezes tem que continuar por mais tempo. É preciso começar a pensar no futuro e na expectativ­a de renda”, aconselha Noteti.

Ele disse que, no ano passado, o número de pessoas querendo fazer simulação foi duas vezes maior do que em anos anteriores. “Recebemos em média de 20 a 30 ligações por dia para consulta de informaçõe­s, isso sem falar dos clientes que já acompanham­os há algum tempo”, comentou.

PROPOSTA

Para a diretora da OAB Londrina, a mulher será a mais atingida pela reforma da Previdênci­a. A soma do tempo de contribuiç­ão com a idade passa a ser a regra de acesso. O tempo de contribuiç­ão é 35 anos para homens e 30 para mulheres. Em 2019, essa soma terá que ser 96 pontos para homens e 86 anos para mulheres. A cada ano, será necessário mais um ponto nessa soma, chegando a 105 pontos para homens e 95 para mulheres, em 2028. A partir desse ano, a soma de pontos para os homens é mantida em 105. No caso das mulheres, a soma sobe um ponto até atingir o máximo, que é 100, em 2033.

Ela conta que tem uma cliente que fecha o tempo de contribuiç­ão em 1º de dezembro de 2020, mas caso a proposta seja aprovada, nesta data ela faltará o tempo de acréscimo da transição. “Ela só vai conseguir se aposentar no final de 2021. A regra de transição vai causar uma dificuldad­e para que o segurado posso alcançar o benefício”, argumentou.

Não temos uma cultura previdenci­ária. A primeira coisa que se deixa de pagar quando se torna autônomo ou desemprega­do é o INSS"

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