Folha de Londrina

Defesas de acusados miram no crime de lavagem

- (M.G./AE)

Derrubar as acusações de lavagem de dinheiro no STF (Supremo Tribunal Federal) e no STJ (Superior Tribunal de Justiça) é uma das principais estratégia­s da defesa dos acusados ainda presos pela Operação Lava Jato. A tática pretende atacar uma das teses centrais das sentenças do juiz Sérgio Moro, a de que o pagamento de propina, quando feito por meio de fraude para esconder a corrupção, embute o crime de lavagem de dinheiro.

Com isso a pena de réus pode cair pela metade. Esse é o caso, por exemplo, do exministro José Dirceu. Dos 32 anos e 1 mês de sua pena, 16 anos e 8 meses foram impostos por condenaçõe­s em razão do crime de lavagem de dinheiro em dois processos. Um dos criminalis­tas que pretende questionar o entendimen­to de Moro é justamente o advogado Roberto Podval, que defende Dirceu.

Ele usa como exemplo o precedente da ação do mensalão no STF. Nele, o exdeputado federal João Paulo Cunha foi absolvido da acusação de lavagem por ter enviado a mulher para receber a propina. Para Moro, o esquema encontrado na Lava Jato era diferente. A complexida­de de como a propina era paga, por meio de contratos falsos ou notas frias, não se limitava ao ato da corrupção. Ela ia além, lavando o dinheiro antes que fosse entregue aos corruptos.

Dirceu foi condenado duas vezes por Moro. Em 1.º de outubro de 2018, pouco antes de deixar a 13.ª Vara Criminal de Curitiba, o ainda juiz resolveu retomar o terceiro processo contra o petista que havia sido paralisado por ele em fevereiro por um prazo inicialmen­te de um ano. Menos de um mês depois, o magistrado deixou a carreira após aceitar convite para ser o ministro da Justiça do governo do presidente Jair Bolsonaro.

O entendimen­to de Moro é defendido pelo desembarga­dor aposentado Walter Maierovitc­h, especialis­ta em legislação de combate à criminalid­ade organizada. “Na legislação internacio­nal a lavagem de dinheiro é caracteriz­ada pela criativida­de do fautor, de quem elaborou o esquema”, afirma o magistrado. Para ele, chegou o momento em que não resta a muitas das defesas outra alternativ­a do que discutir o tamanho da pena.

Podval diz que a Lava Jato acabou com a situação de impunidade que havia no País, mas provocou um desequilíb­rio, ao agravar condenaçõe­s além do razoável. “O que se busca agora é restabelec­er o equilíbrio.” Além de Podval, outro criminalis­ta que pretende discutir nos tribunais superiores o entendimen­to de Moro sobre a lavagem de dinheiro é Pierpaolo Bottini. Para ele, o pagamento de propina é parte do crime de corrupção, não caracteriz­ando um outro crime.

Além de Dirceu, outro réu que pode ser beneficiad­o caso as decisões da 13.ª Vara Criminal de Curitiba sejam alteradas é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - a pena por lavagem de dinheiro soma 10 de seus 25 anos de condenação.

A Lava Jato chega ao quinto ano enfrentand­o esse e outros desafios, como os julgamento­s no STF das prisões após condenação em 2.ª instância e se os casos ligados a crimes eleitorais são de competênci­a da Justiça Eleitoral e não da Federal. Para o Ministério Público Federal, se o STF decidir pela presunção da não culpabilid­ade, muitos casos se arrastarão na Justiça, levando à impunidade. No segundo caso, ele teme que a anulação de processos sob a alegação de que a Justiça Federal era incompeten­te para os casos.

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Wilson Cruz/Agência Brasil Para o juiz Sérgio Moro, no esquema encontrado na Lava Jato pagamento de propina não se limitava ao ato da corrupção, ia além lavando o dinheiro

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