Eletricidade começa a voltar na Venezuela
Suspensão do serviço de energia elétrica é a pior já registrada no país
Brasília
- Gradualmente e de maneira parcial, bairros de Caracas e vários estados da Venezuela começaram neste domingo a recuperar o fornecimento elétrico depois de um corte que começou, em nível nacional, na última quinta-feira (7) e que aprofundou a tensão entre o chavismo e o antichavismo, que promoveram protestos no sábado (9). Segundo informações do canal público de televisão VTV, mais de 20 localidades da capital Caracas recuperaram o abastecimento de energia e que “comunidades de vários estados do país registram uma restituição progressiva do serviço”. A emissora, no entanto, não detalhou quais regiões voltaram a ser abastecidas.
Governadores de dois estados confirmaram o retorno da eletricidade. O governador de Miranda, o chavista Héctor Rodríguez, postou na rede social Twitter que o estado começa a recuperar o fornecimento de energia, embora o sistema ainda esteja instável. A governadora de Táchira, a antichavista Laidy Gómez, informou que o estado voltou a ter eletricidade.
O corte afetou a capital e 22 dos 23 estados do país. A suspensão em massa do serviço de energia elétrica é a pior já registrada neste país de 30 milhões de habitantes. Até o domingo, o país estava praticamente paralisado, com estabelecimentos comerciais fechados e pouco transporte, sem atividade escolar e trabalho. Na população, a preocupação aumenta. “Passei três noites de muita angústia. A pouca comida que temos na geladeira vai estragar. Até quando vamos suportar isso?”, desabafa Francisca Rojas, uma aposentada de 62 anos que vive no leste de Caracas.
Muitos supermercados estão fechados, porque não têm geradores. Ninguém pode fazer saques nos caixas eletrônicos, nem usar cartão, em um país onde as transações eletrônicas são vitais mesmo para pequenas operações diante da escassez de dinheiro em espécie. Os hospitais que têm geradores de energia usaram o recurso para as emergências. “Tem sido terrível. Tudo escuro. Funcionam apenas algumas áreas com uma unidade elétrica que levaram, porque a do hospital não funcionou”, disse Sol dos Santos, 22, cuja filha estava internada em Caracas no domingo.
A ONG Codevida, que atua na Venezuela, informou que 15 doentes renais morreram nos últimos dias no país, em decorrência da falta de diálise. A entidade receia que o número de vítimas aumente porque o apagão afetou o funcionamento dos aparelhos. “Temos os piores serviços do mundo: sem luz, sem água, às vezes sem gás”, desabafou Edward Cazano, 20, que vive com a mãe e três irmãos no bairro popular de Pinto Salinas, na capital.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, apontou os Estados Unidos como responsáveis pela pane elétrica que atingiu o país. Segundo ele, o objetivo é desestabilizar seu governo por meio de sabotagem cibernética. O autodeclarado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, responsabiliza o governo por falta de investimentos e de manutenção, assim como pela corrupção, diante das recorrentes interrupções do fornecimento de energia, principalmente no interior do país.
“Temos os piores serviços do mundo: sem luz, sem água, às vezes sem gás”