Folha de Londrina

Construir em Londrina, um grande desafio

Excesso de burocracia, falta de pessoal preparado e de clareza na legislação dificultam liberação de obras na cidade, reclama Sinduscon

- Nelson Bortolin

Construir em Londrina já é muito difícil, mesmo sem as mudanças no Plano Diretor. Excesso de burocracia, falta de pessoal preparado e de clareza na legislação são alguns dos problemas citados pelos engenheiro­s e empresário­s. Eles dizem que, ao tomarem posse, os prefeitos prometem priorizar a melhoria do ambiente de negócio, mas alegam que isso não ocorre de fato.

De acordo com o presidente do Sinduscon Norte PR (Sindicato da Construção Civil), Rodrigo Zacarias, a atual administra­ção se esforçou para mudar esse quadro, por meio do programa Agiliza Londrina. Mas ele conta que o coordenado­r desse trabalho, Roberto Alves Lima Junior, deixou a função para assumir a presidênci­a do Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamen­to Urbano de Londrina). “O projeto estava andando bem, já tinham feito 10%, 15% do trabalho. Mas parou naquele momento com a saída do Roberto”, explica.

O Ippul foi criado para ser o órgão de planejamen­to da cidade, mas, na opinião de Zacarias, foi recebendo novas atribuiçõe­s durante os anos, de modo que tornouse uma espécie de cartório. “Nem tem mais como planejar nada. O órgão nem deveria funcionar no prédio da Prefeitura”, ressalta.

CERTIDÃO

Entre os processos que Zacarias considera demorados na Prefeitura está o de renovação da certidão de matrícula no cartório de imóvel. Ela é exigida pela município a cada 60 dias, durante a fase de aprovação de projetos. “Se um processo de liberação demorar 61 dias, eu tenho de renovar a certidão por causa de apenas um dia. Tenho de ir ao cartório, pagar taxa, e voltar à Prefeitura”, conta.

O presidente do Sinduscon sustenta que a aprovação do projeto mais simples leva 120 dias em Londrina. “Em Cascavel, onde é todo digitaliza­do, são sete dias”, ressalta. Na visão de Zacarias, é preciso “repensar como as coisas são feitas na cidade”. “Hoje tudo tem de passar por autorizaçã­o da prefeitura e checado pelo fiscal”, critica.

Para ele, o município deveria dar mais liberdade ao empreended­or. “Deixa o empresário construir como quiser. Depois, se for preciso, vai atrás multando quem estiver errado. Só não pode é travar o investimen­to”, declara.

O empresário Luis Carlos Moro Pires, da Quadra Construtor­a, é outro que reclama da burocracia. Ele conta que levou quatro meses para aprovar um projeto que não apresentav­a grande complexida­de. “Existe uma norma da Anac (Agência Nacional de Avião Civil) que todos conhecem. Não tem mistério. A prefeitura não precisaria mandar o projeto para a Infraero para saber se está correto. Mas ela manda e isso leva a um atraso”, explica.

Um dos empreendim­entos da construtor­a que, segundo o empresário, poderia ter começado no ano passado, só foi liberado agora. “Poderíamos estar gerando emprego e impostos desde o ano passado. A cidade inteira perde com isso.”

Pires também reclama dos cartórios da cidade, principalm­ente no registro de escritura. “Eles não se preocupam com o prazo, por qualquer motivo devolvem o processo para a gente. Temos reclamado, mas o problema não é resolvido”, conta.

DESESTÍMUL­O

Segundo o presidente do Sinduscon, a ZR3 - operação do Gaeco (Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado) que apura esquema de cobrança de propina para mudanças de zoneamento na cidade - deixou os servidores inseguros. Eles estariam com medo de assinar documentos e serem responsabi­lizados de alguma forma. Por isso, as licenças na Prefeitura estão demorando ainda mais. “Não estamos conseguind­o aprovar loteamento­s em Londrina. Tanto é que a Caixa só está financiand­o obras nas outras cidades da região”, alega.

Na opinião de Zacarias, falta ao prefeito Marcelo Belinati (PP) chamar a responsabi­lidade para si e autorizar os novos loteamento­s. “Esse é o papel de um líder. Os servidores estão com medo de assinar”, afirma.

Ele reclama que a burocracia da Prefeitura sufoca o empresário. “Hoje, quem vende ‘ar’ na cidade é a prefeitura e as pessoas não estão conseguind­o respirar por falta de fornecimen­to de ar”, ilustra.

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