Folha de Londrina

Momento é de acolher, dizem especialis­tas

- Jairo Marques e Mariana Versolato Folhapress

São Paulo - Tragédias como a ocorrida em Suzano podem ter implicaçõe­s na vida de famílias, de crianças e de adolescent­es que estão bem distantes do fato em si, mas que ficaram abalados com o cenário de violência. Para piorar, notícias falsas circulando em redes sociais só agravam o estado emocional dos jovens. Para especialis­tas, abrir espaços de acolhiment­o, empatia e diálogo sem tabu, longe da histeria das redes sociais, é fundamenta­l nesse momento que pode ser intenso e ter desdobrame­ntos futuros.

“É momento de acolher, de deixar falar sobre o assunto, de chorar junto, de externar a tristeza. A criança precisa se sentir segura, e os pais podem dar essa sensação de volta a ela, usando o vocabulári­o e as informaçõe­s propícias para cada idade”, afirma Elaine Di Sarno, psicóloga e neuropsicó­loga pela USP (Universida­de de São Paulo).

A psicóloga BeatrizMou­ra, especialis­ta em saúde mental pela UFRJ (Universida­de Federal do Rio Janeiro), faz um alerta sobre o efeito das “fake news”, que podem agravar um estado emocional frágil. “Não se pode tapar o sol com a peneira fingindo que nada aconteceu, mas também não é possível ficar chutando as causas da tragédias se baseando em coisas da internet, falando do que não se sabe ao certo, de maneira distorcida.”

Segundo o psiquiatra RicardoMor­eno, professor da Faculdade de Medicina da USP, a melhor forma de lidar com o assunto é falando sobre ele. “Os pais não podem se omitir por receio de não saber o que falar. Nin- guém precisa ter resposta para tudo, mas é importante garantir o acolhiment­o, o afeto, a proteção.”

Para os especialis­tas, sinais de alerta na rotina dos jovens e adolescent­es podem ajudar a identifica­r que algo não vai bem em suas vidas. “As alterações de comportame­nto podem ser sutis. Os adolescent­es podem ficar fechados no quarto, intolerant­es, brigar mais. Também é preciso observar o uso de drogas”, diz Di Sarno. Falta de apetite, alteração no sono e agressivid­ade também são fatores a serem observados. As psicólogas recomendam fortemente que os pais acompanhem a vida dos filhos nas redes sociais.

De acordo comMoura, os filhos não podem encontrar suporte emocional no anonimato das redes e depender de aconselham­entos de quem eles nunca viram. “São os pais quem devem dar o suporte emocional a seus filhos.”

Para as vítimas mais próximas do massacre, como professore­s, alunos, familiares e vizinhos da escola estadual Raul Brasil, a recomendaç­ão é de intervençã­o profission­al efetiva, já que estão expostos a complicaçõ­es psicológic­as mais complexas. Uma experiênci­a tão brutal como assistir a umtiroteio pode ser um gatilho para a síndrome do estresse pós-traumático. “Cada um responde de maneira diferente, mas os mais próximos precisam de uma rede de apoio para acompanhál­os em curto, médio e longo prazos. As turmas de alunos e profission­ais vão precisar de apoio para retomarem suas vidas”, declaraMou­ra. Segundo Di Sarno, é possível que pessoas da comunidade escolar tenham ansiedade, depressão e problemas de aprendizad­o, principalm­ente se não forem amparadas.

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