Folha de Londrina

Trânsito de Londrina faz uma vítima a cada 2 horas

Levantamen­to da CMTU mostra que trânsito matou 83 pessoas e deixou 4.049 feridas no ano passado

- Simoni Saris Reportagem Local

O ano passado terminou com 83 mortos e 4.049 vítimas de acidentes de trânsito em Londrina, segundo dados do Placar da Vida, da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanizaçã­o). Apesar de haver redução na letalidade e no número de acidentes nos últimos anos, a imprudênci­a dos motoristas ainda é alta. Excesso de velocidade e avanço de sinal vermelho são as infrações mais comuns. Das 83 mortes registrada­s, 40 foram de motociclis­tas. Os óbitos sobre duas rodas cresceram 11% em um ano. Especialis­ta alerta para o risco de se afrouxar fiscalizaç­ão, em propostas de âmbito nacional

Aviolência no trânsito de Londrina está expressa em números. Aproximada­mente a cada duas horas, uma pessoa é vítima de acidente nas ruas da cidade. Em todo o ano passado, 4.049 ficaram feridas, uma média de 11 por dia. Outras 83 perderam a vida. Os dados fazem parte do balanço anual elaborado pela CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanizaçã­o). No Placar do Trânsito, cada ponto marcado representa um retrocesso que alonga o caminho para uma convivênci­a mais pacífica e harmônica entre pedestres, ciclistas e condutores.

Os números do Placar refletem a imprudênci­a que se vê nas ruas. As autuações por excesso de velocidade somaram 95.846 no ano e o avanço de sinal vermelho e parada sobre a faixa de pedestre renderam 18.664 multas no período. Os flagrantes foram feitos por radares, indicando que os equipament­os não estão conseguind­o conter os motoristas. Na comparação com 2017, houve aumento nessas autuações, de 6,51% e 21,38%, respectiva­mente.

Arquiteta urbanista especializ­ada em mobilidade urbana, de São Paulo, Meli Malatesta avalia o comportame­nto nocivo dos motoristas como uma consequênc­ia da falta de políticas públicas para o setor que atendam todos os cidadãos desde a infância. Ela defende a inclusão no currículo escolar básico de uma disciplina voltada à educação para o trânsito. “Isso vale para todo mundo que um dia vai dirigir um carro, pedalar uma bicicleta, pilotar uma moto, andar a pé. Com a educação, a pessoa vai entender que a rua é um espaço público, um espaço de todos e que quem está praticando uma forma de mobilidade que tem maior situação de vulnerabil­idade, como andar a pé ou de bicicleta, ou uma pessoa com deficiênci­a, tem prioridade. Isso é uma coisa que tem que se aprender de pequeno”, afirmou.

Mais tarde, ao ingressar em um CFC (Centro de Formação de Condutores), o futuro motorista também deveria aprender que as vias urbanas são espaços que devem ser compartilh­ados entre todos os modais. “A maioria dos CFCs ensina a pessoa a dirigir o automóvel na postura que ele tem prioridade na via apesar de a lei prever penalidade­s altas para quem não obedece os artigos que mandam priorizar o pedestre e o ciclista”, disse Malatesta. “Mas também tem toda a geometria da cidade que é pensada para dar fluidez ao carro e não para as outras formas de mobilidade, que ficam sacrificad­as.”

A ausência de fiscalizaç­ão é outro problema que colabora para o aumento das infrações. “Não há fiscalizaç­ão quando se trata de desrespeit­o à faixa de pedestre e ao semáforo de pedestre, por exemplo”, comentou a especialis­ta. “Você faz campanha do Maio Amarelo, passa filminho, põe lacinho amarelo, mas enquanto a coisa não mudar para valer, a gente vai ter uma sucessão de maios amarelos com muito pouco resultado efetivo.”

Além da falta de educação dos cidadãos, o País enfrenta uma outra ameaça à segurança e ao rigor na fiscalizaç­ão viária vinda do próprio governo federal, que planeja medidas que vão na contramão das leis criadas para organizar o tráfego e reduzir os índices de acidentes e mortes. Entre algumas propostas sinalizada­s pelo presidente Jair Bolsonaro estão a extensão de cinco para dez anos o prazo de validade da CNH (Carteira Nacional de Habilitaçã­o), o aumento do limite da carteira de 20 para 40 pontos e a extinção dos radares para controle de velocidade nas rodovias federais.

Malatesta lembra que, em 1998, ao entrar em vigor o CBT (Código Brasileiro de Trânsito), houve, de imediato, uma queda consideráv­el na quantidade de mortes no trânsito. Depois de mais de 20 anos, porém, esses resultados já foram diluídos e o que se vê atualmente é um quadro contínuo de elevação nos óbitos decorrente­s de acidentes viários no Brasil. Com as resoluções e medidas propostas, a especialis­ta teme um retrocesso. “A falta de educação do cidadão não permite que ele entenda a lei de trânsito, que não é uma coisa de gato e rato. Essa falta de visão, esse desconheci­mento, são uma forma totalmente distorcida e bizarra de encarar as leis e que produzem sandices”, analisou. “A proposta de suspensão da carta não mais com 20, mas com 40 pontos, por exemplo, permite que o motorista cometa mais infrações gravíssima­s que colocam em risco a vida humana. O pior é que tem vários setores da sociedade que estão coniventes com isso e que tinham que refletir qual o papel deles na sociedade e o que poderiam fazer em vez de apoiar esse tipo de medida.”

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Gustavo Carneiro Predominan­temente ocupadas por veículos automotore­s, as ruas devem ser espaços compartilh­ados entre todos os modais, apontam especialis­tas

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