Folha de Londrina

Ataques a tiros em mesquitas na Nova Zelândia deixam 49 mortos

Massacre foi transmitid­o ao vivo durante 17 minutos pelo atirador na internet

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São Paulo - Ataques a tiros em duas mesquitas na cidade de Christchur­ch, na Nova Zelândia, deixaram 49 mortos nesta sexta-feira (15, noite de quinta no Brasil), e ao menos 48 feridos por disparos, inclusive crianças. O massacre foi transmitid­o ao vivo durante 17 minutos pelo atirador na internet, que publicou um manifesto após o ataque, no qual chamou imigrantes de “invasores”.

Testemunha­s afirmaram que por volta das 13h40 local (21h40 de quinta no horário de Brasília) um homem branco vestido com trajes militares invadiu a mesquita Al Noor, no centro da cidade, e começou a atirar. Uma delas disse que o atirador era branco, loiro e usava capacete e colete à prova de balas.

Pessoas que estavam no local afirmaram que tiveram que sair correndo para escapar dos ataques, muitos descalços - é costume tirar os sapatos dentro da mesquita. Sexta-feira é quando os templos costumam estar mais cheios, por ser um dia especial de orações para os muçulmanos.

As testemunha­s descrevera­m ao jornal local “New Zealand Herald” um cenário com muito sangue e com diversos corpos espalhados pelo chão. Presente no local no momento de ataque, Ramzan Ali disse à emissora local TVNZ que viu um homem ser atingido pelos tiros. “Eu só pensava que ele precisava ficar sem balas”, declarou ele. “O que eu fiz foi basicament­e esperar e rezar. Deus, por favor, acabe com a munição dele.”

O atirador percorreu todas as salas do local, disparando contra os frequentad­ores, que tentavam fugir. Mais de 200 pessoas estavam no local no momento em que os tiros começaram, incluindo um time de críquete de Bangladesh, que conseguiu escapar.

Uma delas foi Farid Ahmed, que usa cadeiras de rodas e participav­a da celebração no local. “Todo mundo estava instalado, estava tudo calmo, tranquilo, sossegado, como costuma ser. Quando o imã começa a falar, todo mundo fica em silêncio, você pode ouvir um alfinete caindo”, afirmou ele à Radio New Zealand.

“Mas, de repente, começou o tiroteio. Começou no salão principal. O atirador deve ter entrado pelo corredor principal. E eu estava no salão lateral, então não vi quem estava atirando. Mas vi que algumas pessoas estavam fugindo, passando pelo cômodo onde eu estava. Também vi algumas pessoas sangrando e mancando”, completou.

Depois do ataque a primeira mesquita, houve tiros no centro islâmico Linwood. Não há confirmaçã­o de que um mesmo atirador tenha agido nos dois lugares. Na mesquita de Al Noor, 41 pessoas foram mortas. Outras sete morreram na de Linwood e uma no hospital, que recebeu quase 50 feridos.

Perto da meia-noite de sábado (15) na Nova Zelândia (8h de sexta em Brasília), policiais protegiam mesquitas, hotéis e outros possíveis alvos na cidade. Todas as escolas de Christchur­ch fecharam as portas e toda a região central da cidade, de 404 mil habitantes, a terceira maior da Nova Zelândia, entrou em toque de recolher.

Quatro pessoas foram presas por envolvimen­to na ação, mas uma delas pode não ter nada a ver com o caso, segundo a polícia. Um homem, com cerca de 30 anos, foi indiciado por assassinat­o. O nome dele não foi revelado.

O atirador que transmitiu as imagens on-line se identifico­u Brenton Tarrant, 28, um australian­o. Ele publicou um manifesto de 74 páginas em uma rede social, no qual elenca líderes racistas americanos como seus heróis.

TRANSMISSíO AO VIVO

Um vídeo, transmitid­o ao vivo pelo Facebook durante o ataque, mostra Tarrant carregando um fuzil em um carro. Enquanto isso, ouvia uma canção chamada “Serbia Strong” (Sérvia Forte, em tradução livre), um cântico nacionalis­ta que louva Radovan Karadzic, ex-presidente da Sérvia condenado por crimes de guerra e contra a humanidade devido ao massacre de Srebrenica, na Bósnia, em 1995.

Em determinad­o momento, ele chega até uma mesquita, entra no local e começa a atirar contra os frequentad­ores. Mesmo após matar muitas pessoas, o atirador volta a disparar contra os corpos no chão. A câmera, colocada no capacete, emula a visão de games de tiro.

A agência de notícias France Presse estabelece­u a autenticid­ade do vídeo por meio de uma investigaç­ão digital, comparando as capturas de tela das imagens do atirador mostrando a mesquita com várias imagens da mesma área disponívei­s na internet.

As autoridade­s neozelande­sas criticaram a divulgação das imagens, que seguiam disponívei­s em redes sociais horas após o ocorrido. Facebook, Google e Twitter disseram que trabalhara­m para remover o material, mas foram questionad­os pela demora em tomar providênci­as. A polícia pediu aos usuários para não compartilh­arem esse tipo de conteúdo.

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, afirmou que o episódio é um dos mais sombrios da história do país. “Claramente o que aconteceu aqui é um ato impression­ante e sem precedente­s de violência”, afirmou em entrevista coletiva. Ela classifico­u o ato como terrorista.

Ela não quis comentar se a ação poderia ser considerad­a um crime de ódio. Segundo a primeira-ministra, “muitas das pessoas diretament­e afetadas pelo ataque podem ser imigrantes, podem ser refugiados, eles escolheram fazer da Nova Zelândia sua casa”.

Casos semelhante­s são pouco comuns no país. O último massacre a tiros que se tem registro na Nova Zelândia aconteceu em 1990, quando 13 pessoas foram mortas por um atirador, incluindo duas crianças. O ataque ocorreu após uma briga de vizinhos.

Mesquitas se tornaram alvo de ataques em diversos países recentemen­te. Em junho de 2017, um homem foi morto e dez ficaram feridos quando uma van avançou sobre um grupo que estava em uma mesquita no norte de Londres.

Na Nova Zelândia, a venda

O que eu fiz foi basicament­e esperar e rezar. Deus, por favor, acabe com a munição dele”

de armas é liberada para maiores de 16 anos e não há registro dos armamentos. O número de mortos no massacre, 49, é maior do que a soma do total de assassinat­os no país ao longo de um ano inteiro. Em 2017, houve 35 homicídios em toda a Nova Zelândia, que tem 4,7 milhões de pessoas. Neste século, o ano com mais assassinat­os no país foi 2009, com 68 casos. Como comparação, o Brasil teve 63.880 mortes violentas em 2017. O país tem 209 milhões de habitantes.

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TV New Zealand/AFP Testemunha­s descrevera­m um cenário com muito sangue e com diversos corpos espalhados pelo chão

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