Folha de Londrina

Brasil também tem suas referência­s

- (V.O.)

O cineasta Rodrigo Grota relata que a primeira vez que se sentiu próximo do formato do documentár­io esportivo foi em 2014, quando dirigiu o filme “O Nadador”. “Foi um documentár­io sobre o Tetsuo Okamoto, que foi o primeiro medalhista olímpico da natação brasileira. Ele conquistou a medalha de bronze em Helsinque, em 1952. Quando a gente fez esse documentár­io, o que percebi estudando a trajetória dele é que você vê muitos elementos dramáticos que são preciosos na construção da narrativa de um personagem. Ela está muito próxima do herói das tragédias gregas, que passa por muitas superações e desafios. A gente vê que hoje a mídia está focada nos atletas como se fossem semideuses, porque tem essa questão da jornada do herói impressa na trajetória desses atletas”, destaca.

Grota, que retratou pilotos no longa de ficção “Leste-Oeste”, considera que os esportes que rendem mais bons roteiros são os individuai­s, como o boxe ou o tênis. “Os americanos fazem documentár­ios sobre basquete, futebol americano porque têm poder de produção grande. O documentár­io sobre o Tetsuo Okamoto fez parte de um projeto chamado Memórias do Esporte Olímpico Brasileiro. Ao longo de cinco anos, foram produzidos mais de cem documentár­ios sobre várias modalidade­s e disponibil­izaram isso de forma gratuita para escolas”, relata. Ele conta que tenta fazer um documentár­io sobre a lutadora de taekwondo Natália Falavigna. “A gente conversou com ela em 2014, na época que estava fazendo o documentár­io com o Tetsuo. A gente ainda quer fazer. Ao se fazer um documentár­io desses, é sempre interessan­te ver os bastidores do esporte”, afirma.

Dos documentár­ios sobre futebol, ele cita duas referência­s. “O primeiro que me impression­ou foi ‘Garrincha, Alegria do Povo’, do Joaquim Pedro de Andrade. A fotografia é do Mário Carneiro, que foi um dos grandes diretores de fotografia do Brasil. O Garrincha tinha acabado de ser bicampeão mundial no Chile”, descreve. “O segundo é um média metragem de 30 minutos de Maurice Capovilla, chamado ‘Subterrâne­os do Futebol’, que retrata os bastidores do futebol e para o qual foram filmados treinos do Santos na época do Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe”, destaca.

O cineasta ressalta ainda as produções do Canal 100, do cineasta Carlos Niemeyer, que levava em película às grandes telas as imagens de jogos de futebol. “Alguns cinemas voltaram a exibir imagens do Canal 100 nos anos 90 e alguns canais de TV, como a Cultura, reproduzir­am algumas dessas imagens. Em termos estéticos, era muito bom. Criavam imagens com esplendor, com qualidade muita acima do que a gente vê na TV. A maneira como eles retratavam a emoção do público no estádio era fenomenal. Era uma espécie de exaltação do fascínio que o futebol exerce”, elogia.

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