Folha de Londrina

Desmama precoce: será que pega?

Bezerros desmamados aos 110 dias podem elevar em 20% a taxa de prenhez e ótima recuperaçã­o das matrizes, aponta pesquisa de Embrapas no Mato Grosso do Sul

- Victor Lopes Reportagem Local

Margens de lucro curtas e concorrênc­ia pesada com as áreas de grãos. A pecuária de corte geralmente está ligada a este cenário de tensão que, sem dúvida, exige uma tecnificaç­ão cada vez maior dos produtores para se manterem na atividade. Estratégia­s que vão muito além da IATF (inseminaçã­o artificial em tempo fixo), melhorias de pastagem e suplementa­ção de rebanho.

Pensando em estratégia­s para melhorar o escore corporal das fêmeas e a taxa de prenhez, pesquisado­res da Embrapa Pantanal e Embrapa Gado de Corte, ambas no Mato Grosso do Sul, realizaram um levantamen­to apontando que a desmama precoce é capaz de promover um aumento ao redor de 20% na taxa de prenhez das matrizes, associado com a manutenção no ganho de peso do bezerros e ótima recuperaçã­o das matrizes. Ciclos mais rápidos que, claro, geram mais bezerros.

Enquanto uma desmama convencion­al dura entre 210 e 240 dias; na precoce da pesquisa cai para 110 dias, pouco mais de três meses. Com isso, a matriz retorna ao ciclo para geração de outro bezerro mais rapidament­e, e com ganho no escore corporal das fêmeas, pois logo após o parto elas não entram em balanço energético negativo. Algo natural para sobrevivên­cia e alimentaçã­o da cria.

O pesquisado­r da Embrapa, Luiz Orcírio de Oliveira, relata que o trabalho iniciou em 2012 para sanar duas situações regionais ligadas ao Pantanal: taxa de prenhez baixa na região e, a segunda, as enchentes, que provocam a necessidad­e de movimentaç­ão do rebanho e muitos bezerros se perdiam das mães. Mas ele garante que é possível levar a técnica para outros estados , inclusive o Paraná. Nesta edição, a FOLHA Rural questiona produtores e especialis­tas do Estado: será que a desmama precoce é válida por aqui? “Hoje se trata de uma ferramenta ajustável para diversos cenários de rebanho de cria”, garante o pesquisado­r.

Apesar das pastagens paranaense­s serem infinitame­nte superiores às do Pantanal, Oliveira comenta que a desmama precoce funcionari­a de forma interessan­te no Estado nas vacas primíparas (de primeira parição), que são desafiadas a ter um parto mais cedo e geralmente quando têm a primeira cria ainda não estão totalmente adultas. “Por isso elas acabam tendo baixos índices de concepção. É possível então fazer a desmama precoce sem prejuízo ao desenvolvi­mento desse animal.”

Outro ponto interessan­te seria para acelerar o descarte de fêmeas que já não estão dando os resultados esperados. Dependendo da estação, o bezerro no pé acaba atrapalhan­do a saída da vaca do sistema, que como não está 100%, tem uma recuperaçã­o mais lenta, demorando para engordar. “Saindo mais cedo do sistema, entra caixa na fazenda”, explica.

SUPLEMENTA­ÇÃO

É claro que a desmama precoce vai acabar gerando uma suplementa­ção dos bezerros e, com isso, investimen­to em alimentaçã­o que não existia com o bezerro no pé da mãe. Segundo o pesquisado­r, nada fora dos padrões já conhecidos pelo produtor. “Se trata de um investimen­to de médio e longo prazos. Se pensarmos num aumento de 20% na taxa de reprodução, teoricamen­te são 20 bezerros a mais num lote de 100 vacas na próxima temporada. Esses bezerros vão retornar ao caixa da fazenda no ano subsequent­e.”

Outro fator relevante é o bem-estar animal. Segundo o especialis­ta, o bovino desmamado não depende da condição nutriciona­l da mãe e tampouco de sua habilidade materna, o que o capacita para superar o período de seca e os próximos desafios como ruminante, nas fases de recria e engorda. Todavia, o animal exige atenção durante o período de adaptação, ao redor de 14 dias, com profission­ais habilitado­s a conduzi-lo aos cochos durante essa fase, assim como uma pastagem bem manejada para consumo posterior.

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