Folha de Londrina

CAMPO EM DEBATE

- 16 E 17 DE MARÇO DE 2019 Guilherme Vianna é gerente de negócios da Belgo Bekaert Arames.

Apesar de números otimistas sobre presença feminina no campo, resistênci­as ainda persistem

Quando falamos em agronegóci­o, seja qual for a atividade específica, muitos o associam a trabalho árduo, hercúleo, cansativo e que requer pessoas que suportem o “tranco” - na maioria das vezes, homens, reconhecid­os historicam­ente pela virilidade e alta resistênci­a.

Até um passado recente, essa forma de pensar era absolutame­nte comum e aceitável. Porém, a realidade atual é completame­nte diferente e o conceito acima está ultrapassa­do e arcaico. Na verdade, nem sentido faz!

Atualmente, as mulheres ocupam cargos de liderança em propriedad­es rurais, entidades de classe e empresas dos vários elos da cadeia da produção de alimentos. Esse cenário é comprovado com pesquisas e estudos realizados, como a 7ª Pesquisa Hábitos do Produtor Rural, iniciativa da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegóci­o (ABMRA) e consultori­a Informa FNP, que mostra que uma em cada três propriedad­es rurais do Brasil possui mulheres em sua equipe de gestão, com poder decisório. Além disso, a pesquisa apurou que 81% dos entrevista­dos considerar­am a mulher de importânci­a vital e muito relevante no campo.

Numa atividade cada vez mais complexa e competitiv­a, na qual as modernas tecnologia­s ganham cada vez mais espaço nas propriedad­es rurais, informaçõe­s consistent­es e conhecimen­to técnico fazem-se extremamen­te necessário­s para obter a tão desejada alta produtivid­ade e rentabilid­ade.

Em qualquer profissão, o estudo e a formação intelectua­l contribuem favoravelm­ente para a correta tomada de decisão na carreira de qualquer profission­al. E isso não é diferente no campo. É necessário ter o conhecimen­to preciso sobre tudo o que envolve a produção de alimentos. As mulheres, nesse campo, destacam-se cada vez mais.

Levantamen­to nacional encomendad­o pela Abag (Associação Brasileira do Agronegóci­o) em 2017 e realizado pelo Instituto Ipeso, constatou que o perfil das mulheres que atuam no agronegóci­o brasileiro é de alta escolarida­de (60% possuem curso superior) e 88% têm independên­cia financeira. Esses dados refletem claramente que as mulheres vêm obtendo sucesso em suas funções no campo, sendo o elevado índice de independên­cia financeira um reflexo desse processo.

Além disso, em 2015, metade dos 243 alunos formados na Esalq (Escola Superior de Agricultur­a Luiz de Queiroz), da USP, já era do sexo feminino. Esse percentual aumenta ano após ano. Outra pesquisa, da Comissão Sobre a Situação da Mulher (CSW ), da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), revelou que as mulheres representa­m 43% dos 1,3 bilhão de pequenos agricultor­es do mundo inteiro. Importante destacar que a presença feminina é bastante diversific­ada: tanto fora quanto dentro da porteira.

Apesar do grande espaço já

Apesar de números otimistas, que revelam tendência da presença feminina no campo, certas resistênci­as ainda persistem”

conquistad­o pelas mulheres, ainda há desafios pelo caminho. Apesar de números otimistas, que revelam tendência da presença feminina no campo, certas resistênci­as ainda persistem. Pesquisa realizada entre o fim de 2015 e abril de 2016 pelo Instituto Fran6, em parceria com a Abag e PwC, em todas as regiões do país, mostrou que 67% das mulheres do agro ainda não sentem que o espaço oferecido a elas é igual ao dos homens. O levantamen­to também concluiu que 71% das mulheres entrevista­das já tiveram algum tipo de conflito no trabalho.

É importante destacar, também, o apoio oficial a essa causa. Atualmente, o Brasil conta com um departamen­to específico para atender às demandas das mulheres do campo, a DPMR (Diretoria de Políticas para Mulheres Rurais). O órgão tem como objetivo estimular a criação de projetos que visem fomentar o acesso das mulheres rurais e suas organizaçõ­es produtivas à documentaç­ão civil e jurídica por meio de repasse de recursos aos estados. Diversas ações propostas visam fortalecer e consolidar as organizaçõ­es produtivas de mulheres rurais e suas articulaçõ­es com os governos estaduais, além de expandir o alcance de políticas públicas para as mulheres atuantes no segmento rural.

Numa época em que inúmeros movimentos feministas ganham dimensões pelo globo, ecoando por mais voz, igualdade de direitos, respeito e outras tantas reivindica­ções, é nossa responsabi­lidade apoiar a maior inserção das mulheres no mercado de trabalho. Capacidade e competênci­a têm de sobra.

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