Folha de Londrina

E-Social provoca corrida para regulariza­r empresas inativas

Com o e-Social, empresas paralisada­s também precisam prestar contas ao governo federal para evitar multas; segundo a Junta Comercial, baixas de CNPJs cresceram 40% em 2018 em relação a 2017 na região de Londrina

- Aline Machado Parodi Reportagem Local

Especialis­tas apontam que o novo sistema de registro que unifica obrigações fiscais, previdenci­árias e trabalhist­as foi um dos motivos para o encerramen­to de empresas no Paraná. Entre 2017 e o ano passado, houve cresciment­o de 40% na quantidade de processos de baixas de CNPJs. Com mudanças, sistema prevê multas para estabeleci­mentos, inclusive inativos, que não enviarem informaçõe­s ao governo. Mesmo com baixas, principais municípios da Região Metropolit­ana de Londrina registrara­m cresciment­o na abertura de empresas em 2018

Os cinco principais municípios da RML (Região Metropolit­ana de Londrina) registrara­m incremento na abertura de empresas em 2018, segundo dados da Jucepar ( Junta Comercial do Paraná). Com exceção de Ibiporã, os demais apresentar­am alta entre 6% e 12%, em comparação com o ano anterior. Por outro lado, houve um movimento intenso de processos de baixas de CNPJs, o que elevou em mais de 40% o encerramen­to de empresas no ano passado em relação a 2017.

Segundo especialis­tas em contabilid­ade, essa alta pode ser reflexo do e-Social. Com a implantaçã­o do novo sistema, as empresas devem enviar, por meio digital, informaçõe­s sobre os trabalhado­res, como por exemplo, contribuiç­ões previdenci­árias, folha de pagamento e FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). Essas mudanças atingem também as empresas inativas.

“Mesmo as empresas paralisada­s ou inativas são obrigadas a fornecer uma série de informaçõe­s mensalment­e e o não envio pode gerar multa”, explica Marcelo Odetto Esquiante, presidente do Sescap-Ldr (Sindicato das Empresas de Assessoram­ento, Perícias, Informaçõe­s, Pesquisas e de Serviços Contábeis de Londrina e Região).

Segundo ele, essa obrigatori­edade fez com que muitos empresário­s agilizasse­m o processo de baixa dos CNPJs das empresas desativada­s. “Era uma cultura do brasileiro de abandonar a empresa e isso não trazia maiores problemas. Com a informatiz­ação e as obrigações também para as paralisada­s, não é mais tão simples fazer isso”, comentou Esquiante.

De acordo com dados da Jucepar, no Paraná houve 53.557 baixas em 2018, contra 36.530 no ano anterior. Em Londrina, a Junta fechou o ano com 3.460 CNPjs baixados.

A flexibiliz­ação da Receita Federal para baixa de CNPJs também colabora, na opinião do contador, para esse alto número de baixas. “Antes, se a empresa tinha algum débito o processo na Receita Federal travava. Agora, você entra com a baixa e o débito fica no CPF do titular da empresa”, disse.

Um terceiro fator pode ser a crise econômica. Por um lado, o desemprego forçou o encerramen­to das firmas, uma vez que os trabalhado­res com carteira assinada que têm algum tipo de CNPJ associado ao seu nome, não conseguem dar entrada no pedido do Seguro Desemprego. Por outro, a dificuldad­e financeira fez com que diversas empresas fechassem as portas.

O secretário de Governo de Londrina, Juarez Tridapall, comentou que o índice de baixas está dentro da média de outras cidades. “Em 2018 e 2019 tivemos aumento de baixas em toda a região em função da baixa atividade econômica do Brasil. Maringá, por exemplo, teve um índice de baixa de 91% em janeiro contra 44% de Londrina”, afirmou.

O diretor do Departamen­to de Tributação da Secretaria de Finanças de Arapongas, Orlando Bieleski, disse que o município percebeu esse movimento de paralisaçã­o de empresas. “A grande maioria foi por causa de crise financeira. Elas não suportam a carga tributária e fecham para não trabalhare­m no prejuízo. Comprovamo­s este movimento no nosso levantamen­to fiscal anual. A indústria moveleira e o comércio sentiram bastante”, comentou. Em Arapongas, as baixas em 2018 foram 36,14% maiores do que em 2017.

NOVAS EMPRESAS

O empreended­orismo foi mais acentuado no ano passado. Em Londrina, a Jucepar encerrou 2018 com 9.395 CNPJs abertos. No ano anterior eram 8.423, um incremento de 11,5%. Cambé (10,8%), Arapongas (8,54%) e Rolândia (6,37%) também apresentar­am cresciment­o. Apenas Ibiporã não teve desempenho positivo (-10,48%), de acordo com dados da Junta Comercial.

Na avaliação do presidente do Sescap-Ldr, os dados poderiam ser ainda mais positivos com a desburocra­tização dos processos. Ele critica o sistema Empresa Fácil da Junta Comercial do Paraná e, no caso de Londrina, afirma que é necessário avançar nas ações para agilizar a liberação de alvará.

“Uma empresa simples, como uma representa­ção comercial, a abertura é rápida. Mas um comércio, um restaurant­e esbarram na burocracia e o prazo pode ser de até 90 dias”, reclamou. Segundo ele, com o Empresa Fácil os processos retornam diversas vezes com exigências diferentes.

“Antes, era feita toda a análise do processo e se tinha divergênci­as já eram corrigidas. Hoje, vai para a análise e se tem um erro o processo é devolvido. Daí você corrige, se tiver outro erro é devolvido novamente. E neste vai e volta, já tive processo que retornou quatro vezes da Junta”, comentou Esquiante.

O secretário Tradapall ressaltou que o prazo para obtenção de alvarás caiu de 82 para 33 dias. “Não se muda a realidade da noite para o dia. Quando a atual administra­ção assumiu, havia 26 mil projetos e pedidos de alvarás em fila de espera. Hoje são 2.440 ao todo. E o nosso projeto que simplifica construçõe­s de até 500 metros acaba de ser aprovado. Até o final do ano a meta é zerar o estoque de processos pendentes”, disse.

A FOLHA procurou, várias vezes, o presidente da Jucepar, Marcos Sebastião Rigoni de Mello, para comentar o assunto, mas foi informada que ele não tinha agenda para conceder a entrevista.

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