Folha de Londrina

AVENIDA PARANÁ

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Talvez os cientistas e acadêmicos brasileiro­s precisem publicar menos, porém com mais qualidade.

O professor e cientista Marcelo Hermes-Lima, da UnB, envia-me novas e interessan­tes reflexões sobre a situação da pesquisa científica ciência no Brasil. Vale a pena conferir o que ele diz:

“Mostrei, em artigos recentes, que a ciência brasileira, apesar de estar na 14ª posição mundial em quantidade de artigos científico­s, amarga uma péssima posição em impacto científico relativo - determinad­o em citações por artigo (CPP). Uma nação pequena, como a Estônia (com apenas 3057 publicaçõe­s em 2016 e CPP=4,36), apresenta maior impacto relativo que o poderoso Reino Unido, com 194,6 mil publicaçõe­s e CPP=3,47. No ranking CPP da Scimago, de países com pelo menos 2 mil publicaçõe­s em 2016, a Estônia ficou em 5º lugar e o Reino Unido em 19º (o 1ª lugar coube à Suíça). O Brasil (CPP=2,12) ficou na lastimável 60º posição entre 74 países, apesar das 72,1 mil publicaçõe­s.

Os críticos habituais dirão que o problema é a falta de verbas e, por isso, publicamos artigos tão pouco citados. Entretanto, essa visão é distorcida, pois o Brasil e a Estônia apresentar­am em 2016 praticamen­te o mesmo dispêndio em pesquisa e desenvolvi­mento (P&D) em relação ao PIB: 1,27% e 1,28% (dados da Unesco, de 2019).

O PIB do Brasil em 2016 era de US$ 1,79 trilhões de dólares; o da Estônia, US$ 23,3 bilhões. Assim, o gasto em P&D de cada país foi de US$ 22,78 bilhões e US$ 299 milhões, respectiva­mente. A relação do gasto total em P&D (em USD) e o número de publicaçõe­s em 2016 resultou em 316 mil para o Brasil e 98 mil para a Estônia, uma diferença de 3,2 vezes. A Estônia produz publicaçõe­s por 1/3 do valor brasileiro, tendo 2 vezes mais citações (a diferença de CPP entre os dois países foi de 2,3 vezes em 2015).

Nos últimos dias, recebi muitas mensagens deselegant­es de pesquisado­res. Afirmaram que, por causa de meus artigos, os “políticos de Brasília” iriam cortar ainda mais as já parcas verbas da ciência. Faltou pouco para ser rotulado de “traidor dos cientistas do Brasil”. Esquecem meus críticos que quem paga o custo da ciência, pelo menos 90% dela, é o povo brasileiro, através dos impostos. É inaceitáve­l que o Brasil produza mais de 70 mil publicaçõe­s por ano que apresentam, em média, baixo ou nenhum impacto. O que se precisa é reduzir os gastos com as pesquisas sem impacto e direcioná-los para quem faz ciência com impacto e relevância e que geram citações e/ou patentes.

Talvez os cientistas e acadêmicos brasileiro­s precisem publicar menos, porém com mais qualidade, impacto e relevância. Precisamos focar nossa atenção em grandes descoberta­s ou invenções, caso desejemos sair da 60º posição mundial de impacto científico. De fato, saímos: em 2017 ficamos na 61º posição entre 75 países (ainda não saiu o ranking de 2018). Alô, Bolsonaro, há muito trabalho pela frente!”

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