Folha de Londrina

O jornalismo e o digital

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Ao sopesar o impresso e o digital, o primeiro ainda tem um poderoso impacto na leitura recreativa. Segundo o estudo da Toluna, ainda com a previsão de que os e-books expulsaria­m os livros de bolso, 72% dos entrevista­dos preferem livros impressos. Mesma porcentage­m também gosta mais de revistas impressas. Só na França, 85% escolhem o formato em papel.

Querer ler notícias em papel é o desejo de 55% dos entrevista­dos, 27% usam computador e apenas 17% o celular. Na Alemanha, 75% dos consumidor­es ainda preferem receber as notícias diárias por meio de um jornal impresso. Na Espanha, os fãs de periódicos são 42% dos entrevista­dos.

Ainda não se sabe qual efeito a longo prazo o ambiente digital causará no psicológic­o humano. Doutor em estudos literários pela UFSM (Universida­de Federal de Santa Maria), Rodolfo Rorato Londero cita uma pesquisa encabeçada por cientistas espanhóis e israelense­s que afirma que associamos a mídia digital a “interações curtas e recompensa­s imediatas”, isso por conta do conteúdo encontrado nessas plataforma­s.

“Pense nas notícias curtas, nos memes, nos tweets, nas mensagens instantâne­as. Por outro lado, a mídia impressa, frequentem­ente vinculada a conteúdos aprofundad­os, exige uma leitura prolongada, acompanhad­a de uma recompensa duradoura. Na verdade, a recompensa é duradoura porque a experiênci­a é prolongada: o prazer está no processo, e não no resultado”.

Com o advento do digital, o excesso de informaçõe­s também pode esvaziar o conteúdo de algum acontecime­nto. O atentado terrorista na escola em Suzano (SP) na quarta-feira (13) mostra como o luto pode não ser valorizado quando a rapidez do digital já anuncia análises sobre mortes cujos cadáveres tampouco esfriaram.

“O luto demanda tempo e a rapidez do digital nos rouba justamente esse tempo necessário. Quando não temos tempo para preencher o vazio formado pela ruptura do acontecime­nto, ou seja, quando não temos tempo para encaixar esse acontecime­nto em uma narrativa que faça sentido, o que resta é o próprio vazio”, opina.

Londero concorda que tal excesso de informaçõe­s passa por um filtro em casos de jornais impressos, mas não se pode ignorar que o próprio jornalismo, independen­temente do tipo de mídia, contribuiu para a aceleração de informaçõe­s no caso de Suzano.

“Alguns dizem que uma sociedade complexa exige cidadãos bem informados, mas essa complexida­de também é resultado do jornalismo. Somos cobrados de acompanhar todas as notícias simplesmen­te porque elas estão aí. Por que eu preciso saber de um atentado que ocorreu em Suzano? O drama humano está presente em cada esquina, em cada estória contada ou imaginada”.

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