Folha de Londrina

Perda de certificad­o é ‘retrocesso inegável’

- Lígia Formenti

Brasília - A perda do certificad­o de eliminação do sarampo pelo Brasil representa um retrocesso inegável, avalia o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s, Juarez Cunha. “O País trabalhou muito para conseguir o certificad­o”, constatou o médico. Para ele, a imagem do Programa Nacional de Imunização, que sempre colecionou elogios no cenário internacio­nal, fica arranhada.

Cunha atribui a perda do certificad­o aos decrescent­es índices de cobertura vacinal. “A redução ocorre por diversos fatores”, disse. Para começar, o aumento significat­ivo das vacinas que integram o calendário vacinal. Hoje são 16, somente nos primeiros anos de vida. Na década de 1970, eram seis. “Essa expansão é benéfica, significa uma melhoria na proteção. Mas muitos pais resistem a submeter a criança a várias picadas numa mesma consulta”, ressaltou. “Seria proteção, mas o que eles temem é o desconfort­o da criança.”

O desconfort­o falaria mais alto porque a proteção seria contra doenças que pais muitas vezes só ouviram falar. “É significat­iva a parte da população que nunca teve contato com pacientes que tiveram doenças protegidas pelas vacinas. Fica a falsa impressão de que o risco não existe mais.” Reportagem publicada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” mostrou que 312 cidades tinham risco de retorno da pólio, por causa dos baixos indicadore­s de vacinação.

O presidente da sociedade também apontou outros aspectos: o movimento antivacina­l e a dificuldad­e de acesso aos postos. O médico é cuidadoso ao avaliar as propostas que começam a ser apresentad­as pelo governo, sobretudo a que trata da obrigatori­edade da apresentaç­ão da carteira de vacinação no momento da matrícula. “Vamos esperar para ver os detalhes da sugestão.”

Esta semana, o Ministério da Saúde confirmou mais um caso endêmico da doença no território nacional, completand­o, assim, mais de um ano de transmissã­o sustentada da infecção no País, o que leva à perda do selo de erradicaçã­o do sarampo.

O caso foi confirmado no dia 23 de fevereiro e ocorreu no Estado do Pará. Em comunicado oficial encaminhad­o à Opas (Organizaçã­o Pan-Americana de Saúde), o governo informou que irá pôr em prática um plano para recuperar o título de país livre da doença, concedido em 2016. No ano passado, o Brasil viveu um surto de sarampo, com a grande maioria das ocorrência­s no Amazonas e em Roraima.

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