Projeção do PIB de 2019 é a menor em mais de um ano
Assim que Jair Bolsonaro foi eleito, mercado projetava crescimento de 2,8%; agora, a aposta é de apenas 2%
OComitê de Acompanhamento Macroeconômico da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) baixou para 2% a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro de 2019. O comitê é formado por 25 economistas das empresas filiadas à entidade, incluindo os dos maiores bancos do País. A estimativa para o crescimento do Brasil neste ano é a menor desde janeiro de 2018. O último boletim Focus, do Banco Central, projetou praticamente o mesmo índice: 2,01% (ver quadro).
Durante a campanha eleitoral do ano passado, a expectativa do comitê era de um crescimento de 2,5%. Com a vitória do presidente Jair Bolsonaro, os economistas apostaram num salto maior da economia. Em dezembro, a estimativa era de um PIB de 2,8% para 2019. “Da mesma forma que na reunião passada, permanecem as dúvidas do Comitê quanto às condições para a retomada de um crescimento sustentado da economia para este ano”, diz o relatório do comitê.
Os economistas acreditam que a reforma da Previdência, com “seus efeitos positivos no canal de confiança dos agentes econômicos”, é o grande evento a ser esperado. “Entretanto, as incertezas políticas que envolvem o encaminhamento deste projeto ocorrem em um contexto de decepção dos principais indicadores econômicos nos primeiros meses do ano, sobretudo com o fraco desempenho do mercado de trabalho, que não mostrou sinal de reação.”
O comitê diz também que uma projeção de maior crescimento pode ser apresentada devido à expectativa de novos investimentos que não dependem exclusivamente da reforma, mas da consolidação de um ambiente mais favorável ao negócios.
MUNDO REAL
Apesar do pequeno crescimento, o namoro do mercado financeiro e de capitais com Bolsonaro continua muito bem. É o que garante o economista-chefe da Guide Investimentos, de São Paulo, Victor Candido. “A questão do PIB é outra coisa. O nível de inércia da economia é muito alto. 2018 foi muito ruim. O quarto trimestre foi péssimo. A rampa (para 2019) diminuiu”, afirma.
De acordo com ele, informações sobre o desempenho do comércio e serviços em janeiro levaram a própria Guide a rever para baixo a previsão do PIB. Candido diz não haver tempo para um crescimento maior, mesmo que a reforma da Previdência seja aprovada. “O mercado acha que a reforma só será feita no segundo semestre”, justifica.
Para o economista, o primeiro desapontamento do mercado com Bolsonaro foi a proposta de reforma da Previdência dos militares, enviada nesta quarta-feira (20) ao Congresso. “Uma economia de R$ 10 bilhões é muito pouco, muito aquém do que se esperava.”
Sócio da Real Investor, gestora de recursos de Londrina, Alexandre Mantovani, concorda com Candido. “A recuperação da economia está mais lenta do que se esperava. O estrangeiro que tem potencial de investir no Brasil está aguardando um pouco para entrar com mais força no País”, afirma.
De acordo com ele, o mercado não está “nem otimista, nem pessimista”. “Se houver uma frustração com a reforma da Previdência, se ela vir desidratada ou não vir, aí sim vamos perder muito.” Para Montovani, não há nenhum desgaste do presidente com os investidores. “O governo começou agora. Está tendo dificuldades. É normal. Uma parte (da equipe de Bolsonaro) não tem muita experiência política, mas a equipe econômica é muito boa.”
De certa forma, na opinião dele, o País ainda precisa recuperar confiança. “A Lava Jato mostrou como se faz obra de infraestrutura no Brasil”, disse ele em referência ao escândalo de corrupção que levou executivos das principais construtoras à cadeia e também o ex-presidente Lula. “É normal que o estrangeiro espere um pouco mais.”