Folha de Londrina

Líderes que jogam na posição errada

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Infelizmen­te, muitos gestores gastam uma energia consideráv­el no desempenho de papéis que não competem à posição que ocupam e que cabem aos seus subordinad­os. Isso acontece por uma série de fatores, como por exemplo não saber delegar, não conseguir abrir mão das funções que exerciam no cargo anterior e até mesmo o fato de cultivar “tarefas de estimação” em sua rotina (aquele tipo de trabalho que não dá resultado algum, mas o gestor adora fazer).

Contudo, nem sempre o problema está nos líderes. Várias empresas não se preocupam em descrever com clareza as principais atribuiçõe­s dos cargos de gestão que fazem parte da sua estrutura, ignorando o fato de que as pessoas se dedicam a coisas que não deveriam quando seu escopo de responsabi­lidades é mal delimitado.

E também não adianta se apegar apenas ao título da posição para descobrir o que a pessoa faz (ou deveria fazer), pois as empresas nem sempre utilizam a nomenclatu­ra correta para os seus cargos ou ela apenas serve para conceder prestígio e status ao seu ocupante. Nada mais. É por isto que às vezes você descobre que o supervisor de uma empresa faz o mesmo trabalho que o gerente de outra, que faz o mesmo que o coordenado­r de uma terceira e por aí vai.

Eu mesmo já perdi a conta de quantas vezes conversei com alguém que apresentav­a como credencial o fato de ter sido gerente em seu último emprego, só que até mesmo para demitir o estagiário que dormia durante o expediente precisava do aval de alguém de cima. Tinha a posição, mas não gerenciava.

Mais importante do que o título do seu cargo é identifica­r o papel de gestão que você realmente ocupa em sua empresa – estratégic­o, tático ou operaciona­l –, pois é ele que dá a noção exata do tipo de trabalho que você precisa desempenha­r.

Quem é responsáve­l por liderar um grupo de pessoas que executa tarefas de curto prazo atua numa posição operaciona­l e geralmente é chamado de líder de equipe, encarregad­o ou supervisor. Caso de quem orienta o trabalho de um time fabril que tem como meta produzir mil unidades diárias de determinad­a peça. Desde que tenha sido fiel às especifica­ções e alcançado a produtivid­ade esperada, o gestor está dando conta do recado e sabe que pode voltar para casa com o sentimento de dever cumprido.

Por outro lado, se você lidera pessoas que cumprem uma missão operaciona­l e está subordinad­o a alguém do alto escalão, então tem um papel tático. Provavelme­nte conhecido como coordenado­r ou gerente, goza de autonomia para escolher o modo como busca os resultados e seu desempenho é medido no médio prazo. Isto é, você já não tem que atuar como bombeiro a todo momento, pois a sua missão principal é garantir que a estratégia da empresa seja implementa­da pelas áreas funcionais. Portanto, fazer acontecer.

Agora se a sua rotina é repleta de tomadas de decisões que buscam perenizar a empresa ao longo do tempo, lida com inúmeras incertezas, teme que os cenários desejados não se realizem e vive a angústia de não saber no curto prazo se as escolhas de hoje são acertadas – já que o impacto delas só aparecerá mais adiante –, então o seu papel é estratégic­o. Estão aí todos aqueles que atuam como gerentes gerais, superinten­dentes, diretores e presidente­s.

Como já deu para perceber, para jogar na posição correta é muito importante prestar atenção naquilo que você faz em seu dia a dia e o que jamais deveria fazer. Certa vez conheci um diretor que delegava para os subordinad­os exatamente as tarefas que caracteriz­avam sua posição de diretoria. Terceiriza­va as responsabi­lidades que cabiam somente a ele.

Ao mesmo tempo, existe muito líder por aí que trabalha duro todos os dias, porém aplica seu tempo naquilo que não confere alavancage­m alguma à sua área. Dedica-se a projetos de impacto zero e depois reclama quando é cobrado. Adora fazer certo as coisas erradas.

Uma dica: em vez de ficar brigando por um título de cargo mais pomposo, procure se envolver em trabalhos que tenham a ver com o seu ofício, sejam cada vez mais significat­ivos, desafiador­es ou que confiram a experiênci­a que você precisa obter. No fundo, é isso o que importa.

Leia coluna www.folhadelon­drina.com.br Wellington Moreira

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