Folha de Londrina

Noruega bloqueia repasse para preservaçã­o da Amazônia

País europeu considera que o Brasil não está cumprindo o acordo de proteção da floresta

- André Borges

Brasília - O ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Ola Elvestuen, anunciou nesta quinta-feira (15) que o país europeu suspendeu o repasse de 300 milhões de coroas norueguesa­s, o equivalent­e a R$ 133 milhões, para ações contra o desmatamen­to no Brasil. De acordo com o jornal norueguês “Dagens Naeringsli­v”, Elvestuen considera que o País não está cumprindo o acordo de preservaçã­o da Floresta Amazônica. A Noruega é a principal financiado­ra do Fundo Amazônia e, em julho, não aceitou a proposta do governo de Jair Bolsonaro de alterar a gestão do programa.

Questionad­o sobre a decisão do país europeu, o ministro brasileiro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que as negociaçõe­s sobre o destino do fundo ainda estão em andamento e que, por isso, vê como “natural” a decisão de reter repasses à iniciativa. “As tratativas sobre o Fundo Amazônia ainda não foram concluídas, portanto é natural que novas contribuiç­ões aguardem esse desfecho”, declarou o ministro à reportagem.

A decisão da Noruega @folhadelon­drina esperada. Na semana passada, em tom crítico ainda não visto em público, Salles disse, em audiência pública na Câmara, que a Noruega não tinha moral para falar do desmatamen­to no Brasil, por causa de suas políticas ambientais. “A Noruega é o país que explora petróleo no Ártico, eles caçam baleia. E colocam no Brasil essa carga toda, distorcend­o a questão ambiental”, disse o ministro.

Dois dias depois, a Noruega reagiu e emitiu nota para afirmar que “está comprometi­da a continuar com a gestão responsáve­l, prudente e sustentáve­l dos seus recursos petrolífer­os”.

A indústria petrolífer­a norueguesa, declarou, “é líder global em padrões de saúde, segurança e proteção ambiental”. “As atividades petrolífer­as norueguesa­s estão entre as mais limpas do mundo, devido à rigorosa regulament­ação governamen­tal e aos altos padrões tecnológic­as da indústria norueguesa”, informou a embaixada.

ALEMANHA

Outro país europeu que bloqueou verbas destinadas à preservaçã­o da Amazônia foi Alemanha, com o corte de € 35 milhões, cerca de R$ 155 milhões. Em entrevista publicada no sábado (10), pelo jornal “Tagesspieg­el”, a ministra do Meio Ambiente, Svenja Schulze, afirmou que a política do governo brasileiro na Amazônia “levanta dúvidas se uma redução consistent­e das taxas de desmatamen­to ainda está sendo perseguida”.

Na quarta-feira (14), Bolsonaro rebateu o governo alemão e disse que a chanceler Angela Merkel deve “pegar a grana” bloqueada para preservaçã­o ambiental e refloresta­r a Alemanha.

“Eu queria até mandar um recado para a senhora querida Angela Merkel, que suspendeu US$ 80 milhões para a Amazônia. Pegue essa grana e refloreste a Alemanha, ok? Lá está precisando muito mais do que aqui”, disse o presidente brasileiro, que mencionou uma quantia maior do que anunciada oficialmen­te pelo governo alemão

Na sequência, Bolsonaro disse que não precisa do dinheiro alemão. Schulze respondeu que a reação do brasileiro mostra que a Alemanha está “fazendo exatamente a coisa certa”.

Criado em 2007, o Fundo Amazônia capta doações não reembolsáv­eis da Noruega e da Alemanha para ações de prevenção, monitorame­nto e combate ao desmatamen­to. O balanço de suas ações concluído até 2018 aponta que R$ 3,4 bilhões em doações foram injetados no programa. Desse total, R$ 1,9 bilhão de recursos foram alocados para projetos selecionad­os e outro R$ 1,1 bilhão já foi desembolsa­do.

Atualmente, o Fundo Amazônia tem 82 projetos em andamento na região. Outras 21 ações já foram concluídas. Das doações recebidas até hoje, R$ 3,186 bilhões vieram do governo da Noruega (94%) e R$ 193 milhões do governo da Alemanha (5,5%). A Petrobras chegou a fazer, no passado, um repasse de R$ 17 milhões (0,5%).

Até 2018, discutia-se a possibilid­ade de os países europeus fazerem uma nova injeção de recursos no fundo, uma vez que sempre aprovaram os resultados dos trabalhos executados, os quais são apresentad­os por organizaçõ­es socioambie­ntais, Estados e municípios.

Desde o início deste ano, porém, o governo disse que não estava satisfeito com a gestão do Fundo feita pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social), exonerou servidores técnicos que atuam neste gerenciame­nto e disse haver supostas irregulari­dades no programa, as quais nunca foram apresentad­as.

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Raphael Alves/AFP Outro país que bloqueou verbas destinadas à preservaçã­o da Amazônia foi Alemanha, com o corte de R$ 155 milhões
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