Folha de Londrina

Agricultur­a orgânica é melhor para o meio ambiente?

- CIRO ROSOLEM,

A agricultur­a orgânica é moda. Segundo o que se divulga em revistas e jornais de grande circulação, de acordo com os nutricioni­stas e nutrólogos, consumir alimentos orgânicos vai salvar você e o planeta. Como todas as modas, há verdades e mitos sobre esse tipo de prática agrícola. Normalment­e, as publicaçõe­s aparecem com artigos eivados de conceitos errados e meias verdades. Entretanto, um aspecto, extremamen­te importante, deveria ser mais bem esclarecid­o.

Os orgânicos não são melhores para o meio ambiente. Ao se colocar, por exemplo, que eles evitam a contaminaç­ão em cadeia das áreas agrícolas e dos cursos d’água, se assume que a produção tradiciona­l contamina, o que não é verdade. Agroquímic­os, desde que aplicados de acordo com as recomendaç­ões técnicas, têm efeito negligível sobre abelhas e não deixam resíduos no solo ou na água.

Entretanto, e principalm­ente, há um fator fundamenta­l pelo qual a produção orgânica de alimentos é muito pior do que a convencion­al para o meio ambiente: ela emite muito mais gases de efeito estufa. Portanto, é muito pior em relação ao potencial de aqueciment­o global.

Vejamos: Primeiro, a agricultur­a orgânica tem produtivid­ade bem menor que a convencion­al. Assim, exige mais terra para produzir quantidade semelhante de alimentos e usar mais terra significa desmatar mais. Estima-se que, somente no Brasil, a moderna tecnologia agrícola evitou que fossem desmatados, aproximada­mente, 70 milhões de hectares de florestas. Esta é uma área maior que a atualmente explorada para a produção de grãos no Brasil.

Segundo, além de usar mais terra, como a área é maior, a emissão de carbono para a produção, que guarda relação com a área, é também maior. Ainda, quanto maior a produtivid­ade, menor o índice de emissão de gases de efeito estufa, por unidade de produto. Como na agricultur­a orgânica a produtivid­ade é mais baixa, a pegada de carbono dos produtos é maior.

Terceiro, a agricultur­a orgânica depende de adubos orgânicos e/ou compostos. Tanto os estercos animais como os compostos são potentes emissores de gás carbônico para a atmosfera. No caso de estercos, a emissão de óxido nitroso, muito mais danoso que o gás carbônico, é grande, em função do que tem urina animal.

Quarto, ao contrário do que se acredita, a agricultur­a orgânica utiliza sim, defensivos não biológicos. É o caso de defensivos, permitidos e usados, que têm cobre em sua composição, um metal pesado.

E quinto e por último, ao inverso dos produtos da agricultur­a convencion­al, em que se usam produtos testados e aprovados por três ministério­s, e regularmen­te são colhidas amostras para monitorame­nto da contaminaç­ão, nada disso ocorre com produtos orgânicos.

Desta forma, a agricultur­a orgânica tem seu espaço e sua importânci­a para a população. É um nicho de mercado importante para os agricultor­es. Não precisa de invencioni­ces para ser justificad­a. A opção pelos alimentos orgânicos não pode ser feita com base em mitos.

No Brasil, a moderna tecnologia agrícola evitou que fossem desmatados, aproximada­mente, 70 milhões de hectares de florestas”

A agricultur­a orgânica tem seu espaço e sua importânci­a para a população. A opção pelos alimentos orgânicos não pode ser feita com base em mitos”

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