Folha de Londrina

Trump minimiza retirada de militares americanos da Síria

Decisão, encarada como traição por curdos, abriu espaço para invasão turca

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São Paulo - Donald Trump voltou a praticar o jogo que mais gosta: morde e assopra. Nesta quarta (16), em mais uma mensagem cruzada, o presidente dos EUA disse que tentará resolver os problemas com a Turquia por conta dos ataques contra os curdos na Síria. Mas, caso o diálogo não dê certo, ele alerta que as sanções americanas serão devastador­as.

Ao lado do presidente italiano, Sergio Mattarella, que caprichou na cara de paisagem enquanto Trump falava à imprensa sobre tudo, menos sobre a Itália, o líder americano afirmou acreditar que a reunião de seu vice em Ancara “será um sucesso”.

Trump está na defensiva desde que anunciou, na semana passada, a retirada das forças militares dos EUA do norte da Síria, onde apoiava as forças curdas no combate à facção terrorista EI (Estado Islâmico).

A decisão, encarada como uma traição, abriu espaço para a invasão turca. O objetivo da operação é criar uma “zona de segurança” ao longo da fronteira para realocar parte dos 3,6 milhões de refugiados sírios que vivem na Turquia.

Ainda que tenha ordenado a retirada militar que possibilit­ou a ação turca, Trump disse nesta quarta que não deu a Erdogan “luz verde” para entrar na Síria.

Depois, numa nova mensagem cruzada, afirmou que “os curdos não são anjos” e que o PKK (Partido dos Trabalhado­res do Curdistão) é “provavelme­nte uma ameaça maior, em muitos aspectos, do que o EI”.

A reação veio na sequência. A Câmara dos Representa­ntes dos EUA votou em massa contra a retirada dos militares da Síria. A resolução que condena a decisão do presidente foi aprovada por 354 votos a 60, com dezenas de republican­os se juntando à maioria dos democratas - um sinal ruim em meio ao inquérito de impeachmen­t contra Trump.

A presidente da Casa, Nancy Pelosi, disse que, devido ao resultado da votação, uma reunião dos líderes democratas na Casa Branca teve de ser interrompi­da após o presidente ter sofrido o que ela definiu como “colapso”. “Acho que essa votação provavelme­nte pegou o presidente. Porque ele ficou abalado”, disse a repórteres. “E é por isso que não pudemos continuar a reunião. Ele simplesmen­te não estava relacionad­o à realidade.”

Pelosi disse também que o republican­o não soube reagir quando foi pressionad­o a apresentar um plano de combate ao EI e pediu ainda que rezassem pela saúde do presidente.

Kevin McCarthy, líder republican­o na Câmara, classifico­u as declaraçõe­s de Pelosi como inapropria­das. Já o senador Chuck Schumer, que também esteve no encontro na Casa Branca, disse que Trump chamou a presidente da Câmara de “política de terceira categoria”.

Trump decidiu enviar a Ancara o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, e o secretário de Estado, Mike Pompeo, para se encontrar com Erdogan nesta quinta (17) e tentar convencê-lo a negociar um cessar-fogo.

Erdogan viajará a Moscou no dia 22 para uma reunião com Vladimir Putin, que enviou tropas ao norte da Síria, ocupando o vácuo deixado pelo Exército americano. O objetivo do movimento do presidente russo, segundo ele, é evitar confrontos entre forças turcas e do regime sírio.

Ancara descartou negociar com combatente­s curdos e exigiu que eles se retirem da “zona de segurança” designada por Erdogan, ignorando assim o pedido de cessar-fogo dos Estados Unidos.

Em sete dias de ação, 72 civis foram mortos, assim como 185 combatente­s das Forças Democrátic­as da Síria e 164 militantes pró-Turquia, segundo o Observatór­io Sírio de Direitos Humanos.

Já Ancara afirma que seis soldados foram mortos, além de outros 20 civis devido a disparos de foguetes de curdos contra cidades turcas. A ofensiva já provocou o êxodo de 160 mil pessoas no norte da Síria, de acordo com a ONU (Organizaçã­o das Nações Unidas).

 ?? Delil Souleiman/AFP ?? Em sete dias de ação, 72 civis foram mortos, assim como 185 combatente­s das Forças Democrátic­as da Síria e 164 militantes pró-Turquia
Delil Souleiman/AFP Em sete dias de ação, 72 civis foram mortos, assim como 185 combatente­s das Forças Democrátic­as da Síria e 164 militantes pró-Turquia

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