Minoria árabe organiza onda de atos em Israel
Umm Al-Fahm, Israel O sentimento de insegurança tem levado à mais abrangente onda de greves e protestos entre a minoria árabe de Israel em pelo menos uma década. Há cerca de um mês, há manifestações diárias em cidades de maioria árabe, organizadas por mulheres, estudantes e líderes comunitários.
Em uma dessas manifestações, na cidade de Majd AlKrum, no início de outubro, 20 mil pessoas foram às ruas para reclamar da ineficiência da polícia em combater a criminalidade em regiões árabes do país. Na última quinta-feira (10), um comboio foi a Jerusalém para protestar em frente ao escritório do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu.
A principal demanda é que a polícia investigue os crimes com mais afinco e, acima de tudo, realize operações para confiscar as estimadas 500 mil armas de fogo nas cerca de 120 cidades de maioria árabe em Israel, onde pouco mais de 50% dos 1,9 milhões de árabes-israelenses vivem.
De janeiro a setembro deste ano, 73 cidadãos árabes foram mortos com armas de fogo nessas cidades, número superior a todo o ano de 2018.
Segundo dados oficiais, no ano passado houve 123 assassinatos a tiros em Israel, 72 deles em comunidades árabes. “Perdemos a sensação de segurança”, disse à reportagem o parlamentar Yousef Jabareen, da Lista Árabe Unida, que se tornou na última eleição a terceira maior bancada no Knesset, o Parlamento israelense.
“Quase todas as noites ouve-se sons de armas automáticas de jovens que praticam tiro ao alvo em edifícios, carros ou pessoas. Só nas últimas semanas, 14 jovens foram mortos em cidades da nossa comunidade. As pessoas estão fartas.”
A maior incidência de criminalidade em localidades árabes não é um fenômeno recente. Dados de 2010 a 2018 do Centro Nacional de Estatística mostram que, entre os judeus israelenses - 74% da população -, foram registrados 45 casos de violência a cada 100 mil pessoas.
Já entre a minoria árabe, o número é de 70 a cada 100 mil. Segundo números do Canal 12, 93% dos tiroteios em Israel são cometidos por árabes, além de 64% dos assassinatos, 56% das vendas e posse de armas ilegais e 47% dos roubos. A liderança comunitária árabe afirma acreditar que a tendência desses índices é subir.
Os manifestantes acusam a polícia de discriminação por não se empenhar em soluções. “Se esses incidentes ocorressem em uma área judaica ou no contexto do conflito com palestinos, em poucas horas a polícia encontraria os responsáveis. Mas, quando é algo relacionado a questões internas dos árabes, a polícia não reage”, afirma Jabareen.
Para o ex-parlamentar Esawi Freige, do partido esquerdista Meretz, em artigo publicado no jornal “Haaretz”, a inércia policial se dá porque os problemas “não penetram na consciência do público judeu”.
A polícia rejeita as críticas. De acordo com Micky Rosenfeld, porta-voz das forças de segurança, os agentes apreenderam mais de 3.500 armas, granadas e artefatos explosivos ao longo deste ano, além de terem detido mais de 2.500 suspeitos por posse de armas ilegais.
“Também trabalhamos em conjunto com os líderes das comunidades árabes e os convocamos a assumir a responsabilidade pelo que está ocorrendo”, diz Rosenfeld.
Já o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, prometeu “alocar forças adicionais e aumentar a fiscalização na luta contra a violência”.
Maior incidência de criminalidade em localidades árabes não é um fenômeno recente