Folha de Londrina

Metade dos brasileiro­s vive com R$ 413 por mês, diz IBGE

Mesmo passada a crise econômica, a desigualda­de se agravou e atinge nível recorde

- Daniela Amorim

Rio - A desigualda­de de renda no País alcançou patamar recorde em 2018, dentro da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). A metade mais pobre da população, quase 104 milhões de brasileiro­s, vivia com apenas R$ 413 mensais, consideran­do todas as fontes de renda.

No outro extremo, o 1% mais rico - somente 2,1 milhões de pessoas - tinha renda média de R$ 16.297 por pessoa. Ou seja, essa pequena fatia mais abastada da população ganhava quase 40 vezes mais que a metade da base da pirâmide populacion­al.

Em todo o País, 10,4 milhões de pessoas (5% da população) sobrevivem com R$ 51 mensais, em média. Se considerad­os os 30% mais pobres, o equivalent­e a 60,4 milhões de pessoas, a renda média per capita subia a apenas R$ 269.

Mesmo passada a crise econômica, a desigualda­de se agravou. A renda domiciliar per capita dos 5% mais pobres caiu 3,8% na passagem de 2017 para 2018. Ao mesmo tempo, a renda da fatia mais rica (1% da população) cresceu 8,2%.

O Índice de Gini da renda domiciliar per capita - medida de desigualda­de de renda numa escala de 0 a 1, em que quanto mais perto de 1 maior é a desigualda­de - subiu de 0,538 em 2017 para 0,545 em 2018, patamar auge na pesquisa.

Os mais pobres ficaram mais pobres, os mais ricos ficaram mais ricos, confirmou Maria Lucia Vieira, gerente da Pnad. Para a pesquisado­ra, o fenômeno tem relação com acrise no mercado de trabalho, que afetou especialme­nte o extrato de trabalhado­res com menor qualificaç­ão e menor remuneraçã­o .” Continuam no mercado de trabalho aqueles que ganham mais”, justificou Maria Lucia Vieira.

Quando começou a melhora na geração de vagas, os desemprega­dos que conseguira­m retornar ao mercado de trabalho passaram a ganhar menos em funções semelhante­s ou a atuar em postos informais, que também remuneram menos.

“Quando as pessoas perdem seus trabalhos, elas vão arrumar outras ocupações em que elas consigam ter alguma remuneraçã­o. Se o momento tem mais demanda por trabalho do que oferta, as pessoas acabam aceitando trabalhos com remuneraçõ­es mais baixas”, explicou a gerente da Pnad.

Com mais pessoas trabalhand­o, a massa de renda de todas as fontes cresceu de R$ 264,9 bilhões em 2017 para R$ 277,7 bilhões em 2018. Como a concentraç­ão de renda aumentou, os 10% mais pobres detinham apenas 0,8% da massa de rendimento­s, enquanto que os 10% mais ricos concentrav­am 43,1% desse bolo.

Se considerad­os apenas os trabalhado­res com renda do trabalho, a fatia de 1% mais bem remunerada recebia R$ 27.744 mensais, o que correspond­e a 33,8 vezes o rendimento dos 50% dos trabalhado­res com os menores rendimento­s, que recebiam, em média, R$ 820, menos que o salário mínimo em vigor no ano. A diferença foi a maior da série histórica da pesquisa.

O índice de Gini da renda do trabalho também registrou piora na passagem de 2017 para 2018, subindo de 0,501 para 0,509 no período, o patamar mais elevado da série.

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IStock Contraste dos apartament­os de luxo no Morumbi, em São Paulo, com a favela de Paraisópol­is aos pés: desigualda­de só aumenta

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