Folha de Londrina

CLÁUDIO HUMBERTO

Plataforma de governo, reforma do Estado proposta por Ratinho Jr. enfrenta críticas e grandes desafios

- Pedro Moraes Reportagem Local

Quantidade de petróleo recolhida no Nordeste já equivale a derramamen­to nos EUA, em 2007

“O estado já deveria estar iniciando a sua própria reforma da previdênci­a”, diz professor da UFPR

Em uma grosseira comparação, promover amplas reformas na gestão pública é como trocar o pneu de um carro enquanto ele continua em trânsito. Os desafios para quem comanda a máquina pública envolvem desde a manutenção de serviços básicos, como educação, saúde e segurança pública, como o planejamen­to a curto e médio prazos para que tudo funcione adequadame­nte nos próximos anos. Se na teoria a tarefa já é complexa, se problemas reais forem expostos, como a crise econômica, as gigantesca­s questões fiscais e ao árido ambiente político, a missão fica ainda mais embaraçosa. Esse foi o caminho – necessário – assumido pela gestão do governador Ratinho Junior (PSD) desde o princípio do mandato. Os resultados a respeito das primeiras medidas dividem opiniões. “A primeira pergunta para se responder sobre as necessidad­es do estado é muito simples. Qual é o interesse político em transforma­r o Paraná?”, questiona Egon Bockmann, professor de Direito Econômico da UFPR (Universida­de Federal do Paraná).

As primeiras medidas do governo atingiram diretament­e a estrutura das secretaria­s, reduzidas de 28 para 15, somadas ao corte de 20% das despesas da estrutura do estado. A segunda etapa, anunciada em agosto, foi proposta por meio de três projetos de lei com incentivo à desburocra­tização da gestão do estado. A principal alteração formaria o Instituto de Desenvolvi­mento Rural do Paraná, uma instituiçã­o que abrangeria a atuação do Emater (Instituto Paranaense de Assistênci­a Técnica e Extensão Rural), do CPRA (Centro de Referência em Agroecolog­ia), da Codapar (Companhia de Desenvolvi­mento Agropecuár­io do Paraná) e do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná). No entanto, o projeto, criticado por entidades da sociedade civil de Londrina, permanece em discussão na AL (Assembleia Legislativ­a do Paraná). “Buscamos um modelo de abrir a pesquisa para melhorar as práticas com algo que atinja diretament­e a produção. A ideia é manter o projeto do governo de aumentar os efetivos para melhorar a produtivid­ade. Em Londrina mesmo há aproximada­mente mil projetos esperando aprovação”, detalha o deputado estadual Tiago Amaral (PSB), vice-líder do governo no legislativ­o.

Além dos trabalhos que procuram rearranjar a administra­ção, há um indicativo da necessidad­e de reformas mais profundas para resolver o problema de sustento do estado. No orçamento de aproximada­mente R$ 59 bilhões, acredita-se que apenas R$ 200 milhões estarão disponívei­s para serem investidos. Tanto que o governo já articula um novo financiame­nto de R$ 1,5 bilhão para projetos. Para Bockmann, as medidas estão aquém das necessidad­es. “O estado já deveria estar iniciando a sua própria reforma da previdênci­a. Não dá para esperar a sinalizaçã­o do Congresso. Há ainda que trabalhar ativamente para o investimen­to em infraestru­tura, com recursos privados através das PPP (Parcerias Público Privadas). Há experiênci­as exitosas por todo o País e não há nenhum trabalho neste sentido no Paraná”, avalia o professor da UFPR, que também se posiciona a favor de privatizaç­ões.

PREVIDÊNCI­A

Aliado do governo, o deputado Tiago Amaral sinaliza que uma possível reforma previdenci­ária no Paraná está no radar da Assembleia no próximo ano. Segundo ele, os parlamenta­res do estado decidiram ter precaução em relação às decisões tomadas em Brasília. “O prazo já está no limite, não podemos esperar por muito tempo. Precisamos não só reduzir o problema como não permitir que ele cresça. Gastamos R$ 11 bilhões com pensões e aposentado­rias e o governo precisa arcar com R$ 6 bilhões para que a conta feche”, avalia. Um exemplo do problema pode ser visto na PM (Polícia Militar). Hoje, a corporação tem aproximada­mente 20.500 militares na reserva, enquanto 19.500 estão ativos, responsáve­is pela segurança pública. Ao que se trata das PPPS, Amaral afirma que é um tema complicado, que precisa ser debatido. “Sou um defensor crítico. Acredito que o estado deva terceiriza­r apenas aqueles setores que não são um problema ou tragam prejuízo à administra­ção. E para que isso aconteça, é preciso uma agência reguladora forte”, diz Amaral.

Outro ponto de mudança sugerido pelo governo Ratinho Junior passa pelo corte de benefícios de servidores públicos, como a proposta de acabar com as licenças-prêmio. O professor Bockmann aponta que, ao que se refere aos funcionári­os, há medidas de racionaliz­ação que são bem-vindas. A ideia é aumentar a produtivid­ade e a qualidade dos serviços prestados. Para ele, há alguns pontos em especial que precisam ser avaliados: a estabilida­de e a diferença de salário entre a entrada na carreira e aposentado­ria. “Existem funções que os vencimento­s de início e fim de carreira variam pouco se comparado ao tempo da carreira. Isso não leva a um desenvolvi­mento profission­al. Fora que acaba gerando uma série de verbas indiretas”, avalia o advogado, que acredita num sistema de avaliação. “Em universida­des, os professore­s têm progressão de carreira quando demonstram o desenvolvi­mento de uma série de atividades. Por que não usar os mesmos critérios para avaliar todos os servidores e até, em último caso, exonerar?”, critica o professor.

OPOSIÇÃO

Sob o olhar crítico da oposição, as medidas apresentad­as como reforma por parte do governo não surtem efeito e representa­m continuida­de. Este é o resumo do ponto de vista do deputado estadual Requião Filho (MDB). “Qual reforma está sendo feita? São muitas medidas que não surtem efeitos e podem significar perda de direitos dos servidores. Não há investimen­to em infraestru­tura e o governador ainda pretende aumentar o número de rodovias com pedágio, num modelo que não vem dando certo”, critica. Apesar das discordânc­ias, o deputado afirma não estar fechado a negociar e discutir temas relativos ao Paraná. “Na gestão do Beto Richa (PSDB), apresentei diversos projetos para promover a recuperaçã­o do estado. Voltei a apresentar ao vicegovern­ador Darci Piana (PSD), que viu com bons olhos. Mas tudo sempre morre no terceiro andar do Palácio do Iguaçu, onde fica o gabinete do governador”, conclui.

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Ricardo Félix LEAL/AEN A junção de secretaria­s foi uma das primeiras ações anunciadas pelo governador do Paraná como medida de reduzir o custo da máquina; acordos de PPPS ainda engatinham

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