Folha de Londrina

CU RA QU E VEM DE DENTRO

- LAÍS TAINE REPORTAGEM LOCAL

Quando se tem a certeza que a beleza vem de dentro, fica menos doloroso lidar com a doença. Essa afirmação foi constatada por Ana Carolina Sanches, 40, que sem afrouxar o sorriso que vai de orelha a orelha, não deixou de colocar o batom predileto antes de sair para uma quimiotera­pia. Manter a autoestima durante o tratamento pode ser difícil, mas a professora acredita que é um dos remédios que muitas mulheres precisam para se manterem alegres, apesar das dores.

“Eu me mantive bonita, eu me maquiava, colocava brincão e saía. Eu continuei feliz, como sempre fui e sou”, conta a professora. O estado de espírito continua irradiando no tom de voz firme, na risada forte e no dom para a conversa sem dispersão. Foto do tempo careca está no porta-retrato no canto da sala, e ela logo tira outra da gaveta para mostrar. “Olha como eu fiquei bonita”, sugere com um autoelogio.

Sanches descobriu o câncer de mama 15 dias antes de perder a sogra pela mesma doença, que se iniciou no intestino, mas atingiu ao grau de metástase. Marido e filhos já desgastado­s com a rotina triste da casa, ela viu como alternativ­a ser mais generosa com a própria vida. “Eu não negligenci­ei a doença, tudo que o médico falava eu fazia, mas não me deixei abater pelo cansaço físico, pelo desânimo, porque tem dias que parece que você levou uma surra, mas quis focar no tratamento, pedir ajuda para quem podia”, revela.

A rede de apoio de família a amigos fez toda diferença, o que ela reconhece como um privilégio, sabendo que muitas mulheres são abandonada­s quando descobrem a doença. “Às vezes ela tem três filhos, o marido foi embora, é preciso chegar com muito amor até essa pessoa, porque quando não tem apoio é muito mais difícil”, afirma. Ela sabe, pois é voluntária em centro de apoio de mulheres com câncer e presencia histórias muito diversas. “Eu quero poder ajudar, falar dessa alegria que está em mim. Essa foi uma experiênci­a que se fez necessária na minha vida, eu gosto muito de gente e o câncer intensific­ou isso em mim. Agora é uma missão de vida”, revela.

ALEGRIA E AUTOESTIMA

Com pensamento­s positivos sobre a vida, encarar as consequênc­ias do tratamento que abalam a saúde física e mental foi mais tranquilo. Antes da quimiotera­pia, a retirada da mama. Depois, os enjoos e queda do cabelo. “Eu tenho turbantes, lenços, me maquiei. Eu saía na rua com a cabeça raspada, mas sempre maquiada e com brincão. As pessoas falavam: ‘que estilo lindo!’, e eu dizia: ‘então... é câncer’”, diverte-se com a confusão.

Para ela, a maquiagem foi um apoio para conseguir sair na rua sem ter que enfrentar olhares piedosos. “Fiz um curso de automaquia­gem na ong. Ela empodera. Aprendi a usar o lenço, fiz micropigme­ntação, usava cílios postiços, eu não tinha vergonha, isso ajuda muitas mulheres”, revela. Sair, viajar, curtir a família. Fazia sempre que podia.

“Durante o tratamento, a gente não sabe o que vai acontecer. O câncer de mama é a doença que mais mata, a gente perde muitas pessoas, mas eu não me abati”, revela. O segredo disso está na fé, no apoio, no amor pela vida, e na alegria que sempre a acompanhou transforma­ndo dor em beleza. “Eu estava bem por dentro e isso transparec­ia”, sorri mais uma vez entre tantas.

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