Mano Edson, um grande namorador
Ele era um rapaz bem bonito, corpo atlético, cabelos castanho e compridos, como era moda na época. Era um pouco tímido, mas muito namorador. Nos bailes das fazendas, sempre arrumava uma namoradinha. Tinha uma bonita voz e em todas as festas da igreja, ele era o locutor, além de cantar as “modas sertanejas”. Comandava também os bingos das festas. Isso fazia o coração das mocinhas palpitarem. Tinha também outro predicado, era muito bom de bola, artilheiro do time principal da fazenda onde morávamos.
Certo domingo, nossa fazenda foi jogar na fazenda Santa Matilde, alguns quilômetros mais distantes. Após o almoço, todos em cima do caminhão Chevrolet 51, atletas e torcedores. Na caminhonete, do primo Aristeu, iam as mocinhas. Mitiko, uma japonesinha de pele bem clarinha, que também tinha uma “caidinha” pelo mano Edson, levava uma sombrinha estilo japonês, e foi a primeira a subir na carroceria do veículo. Imaginem uma japonesinha naquela época “paquerar” um brasileiro. Pois bem, a caravana partiu rumo ao local da peleja. Sol a pino, e não é que a japonesinha achou de abrir a sombrinha com a caminhonete correndo. Não precisa dizer que a pobre sombrinha virou do avesso. Nunca se viu a japonesinha tão brava como naquele dia.
Chegando ao campo, onde durante a semana era o “habitat” das vaquinhas, tinha um boteco na beira do “gramado” onde era vendido sorvetes de groselha, tubaína, cerveja e cachaça sob uma frondosa paineira. O jogo começou e poucos minutos depois uma tremenda confusão nas torcidas. Sombrinha para todos os lados, cabelos sendo puxados, mocinhas arrastadas. A Mitiko parecia um samurai e o que sobrou da sombrinha usava como uma espada. Uma loucura. Motivo: mano Edson. O jogo parou. No time da fazenda adversária tinha dois rapazes que eram irmãos de uma mocinha que se dizia namorada do mano. Os dois, vendo a irmã apanhar, partiram para cima do namorador Edson que correu pela capoeira, mato adentro. O mano só chegou em casa, a pé, bem a noite, cansado, com as roupas que era só picão e carrapicho. Nossos pais ficaram muito bravos com ele e o proibiram, por um tempo, de ir a bailes e jogar futebol. Valeu o castigo? Não sei, pois...
Passados os anos, hoje o Diácono Edson se tornou um outro homem. Mas ri quando relembra do passado.
“Tinha uma bonita voz e em todas as festas da igreja, ele era o locutor. Isso fazia o coração das mocinhas palpitarem”