Folha de Londrina

EMBUTIDOS ARTESANAIS PODEM GANHAR NOVO STATUS COM SELO

- VICTOR LOPES Reportagem Local

O cadeia profission­alizada e tecnificad­a da suinocultu­ra paranaense tem sua representa­tividade em volume de produção, investimen­tos e peso no agro nacional. A expertise do produtor do Estado, entretanto, não se limita apenas na terminação de animais para cooperativ­as e frigorífic­os. Muitos deles têm conhecimen­to - alguns passando de geração em geração - na produção dos embutidos: produtos únicos, feitos de forma artesanal e que têm potencial enorme na agregação de valor.

Como já acontece com o queijo artesanal paranaense, quem trabalha com embutidos também pode atingir outro patamar de comerciali­zação, principalm­ente com a chegada do Selo Arte - idealizado pelo Mapa (Ministério da Agricultur­a, Pecuária e Abastecime­nto) - que autoriza a comerciali­zação de produtos de origem animal em todo o território nacional de forma, digamos, um pouco mais simplifica­da. Para isso, o produtor precisa ser caracteriz­ado como artesanal, ter um processo produtivo com boas práticas agropecuár­ias e estar vinculado a um serviço de inspeção sanitária, nem que seja o SIM (Serviço de Inspeção Municipal).

O Paraná, numa parceria entre Seab (Secretaria da Agricultur­a e do Abastecime­nto), Adapar (Agência de Defesa Agropecuár­ia do Paraná) e Secretaria da Saúde, começou no dia 7 de outubro o cadastro prévio dos interessad­os em adquirir o Selo, identifica­ndo e localizand­o as demandas nas regiões do Estado. O cadastro prévio é feito nas unidades municipais do Instituto Emater e na própria Adapar.

A arte do saber fazer da linguiça artesanal, uma paleta suína, salames ou até um bacon de pernil encaixa-se como uma luva em todo esse movimento de valorizaçã­o do artesanal. Num passado não muito distante, o trabalho com embutidos na propriedad­e era até mais comum, cursos eram ministrado­s, mas com a rigidez dos órgãos de fiscalizaç­ão, acabou perdendo espaço nas granjas mais tecnificad­as. Por outro lado, muitos continuam produzindo e comerciali­zando, mesmo que informalme­nte, esse tipo de produto com uma qualidade excelente.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a) compilados pela Emater relatam que entre 2006 e 2017 os estabeleci­mentos rurais que fabricavam embutidos e defumados no Estado saltaram de 1.009 para 1.390, incremento de 37,7%, incluído os formalizad­os e os que não possuem nenhum tipo de inspeção sanitária. Na Emater são apenas 553 cadastrado­s, enquanto estabeleci­mentos formalizad­os que processam produtos de origem animal são 787. Os dados, portanto, são desencontr­ados, e mostram, por exemplo, que muitos produtores podem estar produzindo uma linguiça artesanal para consumo próprio ou mesmo vendendo a vizinhos. A reportagem da FOLHA encontrou alguns produtos neste cenário.

“A fiscalizaç­ão foi muito incisiva e a suinocultu­ra acabou se tecnifican­do, houve uma especializ­ação da cadeia, com o processo industrial inibindo o caseiro. Por outro lado, existe um resgate de raças mais rústicas com qualidade no sabor, de mais gordura entremeada e que gera um produto embutido de maior qualidade. Como aconteceu com o porco Moura, na cidade de Mato Rico (Centro-sul), com um associação que nasceu com mais de 70 criadores”, explica a engenheira agrônoma e coordenado­ra estadual de agroindúst­ria familiar da Emater, Mary Stela Bischof.

A grande chave dos órgãos estaduais - e aí o fomento do cadastro neste mês - é encontrar pelo Estado produtores talentosos na produção de embutidos, mas que por não possuírem inspeção sanitária acabam não fortalecen­do as vendas de produtos únicos. “São produtores que dominam todo o processo: abatem na propriedad­e ou recebem uma carcaça, fazem o corte, processo de tempero e a defumação final. Isso identifica o produto como artesanal. O potencial é muito grande.”

ENTRAVES

Neste processo de fomentar os embutidos artesanais, uma das grandes dificuldad­es é conseguir fazer o abate dos animais, já que muitas cidades não têm abatedouro­s e viabilizar esse processo na propriedad­e é muito oneroso, com todas as exigências das Instruções Normativas. “Por isso, seria importante que

A fiscalizaç­ão foi muito incisiva e a suinocultu­ra acabou se tecnifican­do, com o processo industrial inibindo o caseiro”

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil