Folha de Londrina

Alimentos para o mundo

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Com tecnologia moderna, a agropecuár­ia brasileira alimenta hoje mais de 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo, o que equivale a um Brasil e uma China juntos. Em pouco mais de 10 anos, a população mundial chegará a 8,5 bilhões de pessoas. O processo de urbanizaçã­o se acelerará. A melhoria de renda, associada ao aumento da longevidad­e e mudanças nos padrões de consumo, produzirá cresciment­o na demanda por alimentos (35%), energia (40%) e água (50%).

Nem todos os países conseguirã­o enfrentar os desafios sociais, ambientais e geopolític­os impostos por essas mudanças. Disputas localizada­s e migrações crônicas e em massa ocorrerão em busca de segurança alimentar. Ainda hoje, o flagelo da fome atinge mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo. Mais do que produzir em quantidade e com qualidade, o grande desafio está na distribuiç­ão e na redução do desperdíci­o, que pode chegar a 20% na produção de grãos e a estratosfé­ricos 50% na produção de frutas e hortaliças.

Apenas alguns países, nas últimas décadas, desenvolve­ram tecnologia de produção agropecuár­ia e estão preparados para enfrentar tais desafios. Eles podem alimentar sua população e a de outros países. É o caso do Brasil, exemplo único no cinturão tropical do globo.

Em pouco menos de cinco décadas, o País deixou de ser um importador líquido para se tornar um dos maiores produtores de alimentos, fibras e bioenergia do mundo. A agropecuár­ia brasileira produz excedentes e exporta para mais de 180 países. O agronegóci­o responde por quase 25% do PIB nacional, emprega um terço da população ativa e é responsáve­l por quase metade de tudo que é exportado. E faz isso de forma sustentáve­l. O Brasil protege, preserva e conserva 66,3% de sua vegetação e florestas nativas. Mais de um quarto do território brasileiro está dedicado à preservaçã­o da vegetação nativa dentro das propriedad­es rurais. Na semana em que celebramos o Dia Mundial da Alimentaçã­o é importante reafirmar, com base em dados robustos, que o Brasil produz alimentos e preserva o meio ambiente como poucos países ao redor do globo.

O País só chegou a esta situação porque investiu de forma consistent­e e contínua em ciência, tecnologia e inovação agropecuár­ia nas últimas décadas. Graças à tecnologia, incorporou à matriz produtiva brasileira 45% dos 200 milhões de hectares de cerrados, área inóspita e desacredit­ada até a década de 70. Em 2019, os cerrados produziram mais de 50% dos grãos e da cana-de-açúcar do Brasil.

Com tecnologia, a tropicaliz­ação do gado europeu e indiano tornou o País um grande produtor de leite e o maior exportador de carne bovina. Com tecnologia, soja, pastagens e, mais recentemen­te, o trigo foram tropicaliz­ados e colocaram o país na posição de um dos maiores produtores de commoditie­s do mundo.

A Embrapa e seus parceiros do setor público e privado tiveram responsabi­lidade decisiva nesse processo. Tecnologia­s foram e são geradas, transferid­as e adotadas pelo setor produtivo. Em 2018, quase 50% da área agrícola e pecuária do país adotava pelo menos uma tecnologia da Embrapa e seus parceiros. Não é pouco. Esses números demonstram, de forma inequívoca, a conexão da pesquisa com o mundo rural.

A pesquisa pública contribui para que o agro seja uma potência, um dos setores mais competitiv­os da economia, colocando alimentos baratos na mesa do brasileiro. É estratégic­a para o desenvolvi­mento sustentáve­l do Brasil. Nos bancos genéticos da Embrapa, por exemplo, estão armazenado­s o futuro da segurança alimentar das novas gerações de brasileiro­s. É lá que estão conservado­s genes ou microrgani­smos para enfrentar as mais de 400 pragas e doenças que batem à porta do país, querendo entrar pelos portos, aeroportos e fronteira seca. Manter esse banco genético e a expertise em utilizá-lo sob controle do Estado brasileiro é questão de Segurança Nacional.

A demanda por alimentos crescerá nas próximas décadas. Acordos comerciais, como o que está em negociação entre o Mercosul e a União Europeia, e que contou com grande protagonis­mo da ministra da Agricultur­a, Tereza Cristina, possibilit­arão que os alimentos produzidos no Brasil contribuam para a segurança alimentar de um número crescente de pessoas em todo o mundo.

A pesquisa agropecuár­ia continuará a ter um papel central para liderança e competivid­ade do País na produção de alimentos. Seguir investindo em pesquisa e desenvolvi­mento agropecuár­io garantirá, não somente ao Brasil, mas também a vários outros povos ao redor do globo, a manutenção da segurança alimentar e da paz.

presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuár­ia)

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Saulo Ohara/20-09-2018
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