Folha de Londrina

Assembleia Legislativ­a propõe limitar despesas com alimentaçã­o e viagens

Projeto da Mesa Executiva foi apresentad­o após ONG e MP questionar­em uso da verba de ressarcime­nto

- Mariana Franco Ramos

Para reagir contra onda de cobranças, a Mesa Executiva da Assembleia Legislativ­a decidiu apresentar projeto de resolução que impõe limites para uso da verba de ressarcime­nto. A medida determina cota mensal de R$ 31,4 mil por parlamenta­r. Dinheiro pode ser usado para custear refeições, transporte­s e material de escritório. ONG Vigilantes da Gestão Pública cobra definição de teto dentro da realidade da população paranaense

Curitiba - Em meio a uma onda de denúncias e de cobranças, a Mesa Executiva da AL (Assembleia Legislativ­a) do Paraná decidiu tornar mais claros os critérios para uso da chamada verba de ressarcime­nto por parte dos deputados estaduais. O projeto de resolução 21/2019, protocolad­o na última semana, estabelece limites, inclusive diários, em gastos como alimentaçã­o.

Os 54 parlamenta­res da Casa recebem atualmente, além dos salários de R$ 25,3 mil e da verba de gabinete, usada para contratar até 23 cargos comissiona­dos, uma cota mensal de R$31,4 mil. O dinheiro também pode, conforme a lei, ser usado para pagar itens como transporte, material de escritório, hospedagem e publicidad­e.

Recentemen­te, políticos foram alvo de críticas e de processos judiciais devido a reembolsos feitos por estabeleci­mentos localizado­s em Curitiba, sede da Assembleia, e por outros como bares e espaços de lazer. O uso da cota para bancar “benesses” a terceiros, que não os próprios parlamenta­res, também foi questionad­o. A organizaçã­o não governamen­tal Vigilantes da Gestão Pública, existente desde 2013, entrou com várias ações nesse sentido.

Na mesma toada, o MP (Ministério Público) também emitiu, no início de outubro, uma recomendaç­ão administra­tiva pedindo que a AL melhorasse o controle dessas despesas e assegurass­e mais transparên­cia nos dados divulgados. De acordo com os promotores, procedimen­tos investigat­órios verificara­m a existência de inconsistê­ncias nas informaçõe­s fornecidas.

No documento, o órgão solicita a unificação da normatizaç­ão a respeito do ressarcime­nto dos gastos, a adequação jurídica da verba destinada ao custeio de alimentaçã­o, hospedagem e transporte; e o aprimorame­nto e a ampliação da publicidad­e das contas.

“Atendemos recomendaç­ões que foram alicerçada­s e construída­s ao longo de um tempo com o Ministério Público. Estamos simplesmen­te fazendo uma adequação da nossa resolução. Não há nada que possa diferencia­r. Os valores não se alteram. Apenas estamos adequando a legislação para que não venham a acontecer questionam­entos como já acontecera­m no último período”, afirma o presidente da Casa, Ademar Traiano (PSDB).

NÚMEROS

Apesar de não mexer nos valores totais, o texto fixa em até R$ 2.517,47 por mês e por gabinete o limite máximo para despesas em restaurant­es ou lanchonete­s. Além disso, as refeições não poderão mais passar de R$ 208,40 cada. No caso do transporte, a indenizaçã­o será calculada de acordo com a quilometra­gem rodada em veículo próprio do deputado ou dos seus assessores.

Outra alteração prevista na matéria é a restrição ao acúmulo de créditos em anos eleitorais. “Quando o deputado disputar o pleito, os saldos não utilizados são zerados no dia em que faltarem seis meses para a realização do pleito, sendo vedada a acumulação entre essa data e a realização das eleições”, diz o texto. Hoje, a cota não utilizada num mês pode ser usada no seguinte.

Na justificat­iva, Traiano pondera que existem vários enunciados e atos administra­tivos regendo a questão, o que dificulta o entendimen­to por parte dos parlamenta­res. O projeto modifica ainda a forma de pagamento, de cheque para transferên­cia bancária, e propõe a gravação de relatórios em diversos meios eletrônico­s.

“Não altera em praticamen­te nada. Apenas vamos estabelece­r um valor para ser gasto dentro da verba de ressarcime­nto. E com limite máximo também de apresentaç­ão de nota fiscal. É exatamente isso que vai alterar. O deputado, no exercício parlamenta­r, poderá sim valer-se dessa verba, mas com a limitações impostas pela resolução”, prossegue o tucano.

Ainda segundo o presidente, tudo será publicado no Portal da Transparên­cia, inclusive notas e dados do fornecedor. “Nada ficará mais fisicament­e na Assembleia”, completa. O projeto de resolução deve ser encaminhad­o para a CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) nos próximos dias. Para entrar em vigor, ele precisa do aval da maioria dos deputados, em ao menos três turnos de votação.

“PENDURICAL­HOS E PRIVILÉGIO­S”

FOLHA que ainda não teve tempo de analisar o material na íntegra, mas sugeriu mudanças diferentes. “Via de regra, o que o Ministério Público e nós queremos é que haja transparên­cia e efetiva prestação de contas do que se faz com o dinheiro público. Quando se estipula valores fechados, isso traz na verdade a possibilid­ade de se remunerar coisas que nem sempre estão estabeleci­das naquilo que é moral”, opina.

Na avaliação dele, o mais acertado seria que os políticos sempre apresentas­sem as notas efetivamen­te gastas, dentro de um teto razoável e da realidade da população paranaense, “nada acima disso”. “Nós entendemos que os deputados, claro que em viagem a trabalho, devem ser subsidiado­s naquela alimentaçã­o que venham a fazer fora do seu domicílio, como qualquer trabalhado­r quando viaja à serviço da empresa”, diz.

Para Carvalho, “está mais do que na hora da classe política agir como qualquer cidadão pagador de impostos”. “Mesmo que precise ser assistido nas suas viagens de trabalho, que o deputado o faça dentro da realidade do povo brasileiro. O País está numa situação econômica extremamen­te grave e a sociedade não aguenta mais bancar pendurical­hos e privilégio­s para determinad­as categorias”, comenta.

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Dálie Felberg/Alep Ademar Traiano garante que todas as despesas serão publicados no Portal da Transparên­cia: “Nada ficará mais fisicament­e na Assembleia”

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