CONVULSÃO SOCIAL -
Protestos começaram na sexta-feira; aumento da passagem de metrô foi o estopim
Confrontos entre manifestantes e policiais deixaram pelo menos sete mortos e cerca de 1.500 detidos nos últimos dias no Chile. Autoridades decretaram toque de recolher pelo segundo dia consecutivo por causa da onda de violência e de saques. Aumento da tarifa do metrô motivou protestos.
Santiago - Santiago - A pior eclosão social desde a redemocratização do Chile, em 1990, se intensificou neste domingo (20), com confrontos violentos e saques que deixaram pelo menos sete mortos e cerca de 1.500 detidos.
Cinco pessoas morreram na tarde de domingo em uma fábrica de roupa no bairro de Renca, em Santiago, que pegou fogo depois de ser saqueada em meio às manifestações no país.”Lamentavelmente, foram encontrados cinco corpos no interior da fábrica, resultado desse incêndio”, relatou à mídia local o comandante do Corpo de Bombeiros de Santiago, Diego Velásquez.
As outras duas mortes foram registradas também em um incêndio após o saque de um supermercado da rede Líder. Inicialmente as autoridades haviam anunciado três vítimas fatais, mas o balanço oficial divulgado pelo ministro do Interior e Segurança, Andrés Chadwick, cita duas mortes. Ele disse que uma terceira pessoa ficou gravemente ferida, com 75% do corpo queimado.
O centro de Santiago virou um cenário de destruição: semáforos no chão, ônibus queimados, lojas saqueadas e milhares de destroços nas ruas após os protestos iniciados na sexta, com o aumento do preço da passagem do metrô, uma notícia que foi o estopim para uma série de reivindicações sociais. No sábado, o aumento foi suspenso pelo presidente Sebastián Piñera.
Os manifestantes também atacaram ônibus e estações do metrô. De acordo com o governo, 78 estações foram atingidas e algumas ficaram completamente destruídas. O prejuízo ao metrô de Santiago supera US$ 300 milhões e algumas estações e linhas demorarão meses para voltar a funcionar, afirmou o presidente da companhia estatal, Louis de Grange.
Eixo do transporte público da capital chilena, com quase três milhões de passageiros por dia, o metrô sofreu uma “destruição brutal”, afirmou declarou Grange. “Estamos vivendo elevadíssimos níveis de delinquência e saques”, afirmou Alberto Espina, ministro da Defesa.
Aos gritos de “basta de abusos” e com o lema que dominou as redes sociais “ChileAcordou”, o país enfrenta críticas a um modelo econômico em que o acesso à saúde e à educação é praticamente privado, com elevada desigualdade social, valores de pensões reduzidos e alta do preço dos serviços básicos.
A manifestação não tem um líder definido nem uma lista precisa de demandas. Aparece como uma crítica generalizada a um sistema econômico neoliberal que, por trás do êxito aparente dos índices macroeconômicos, esconde um profundo descontentamento social.
TOQUE DE RECOLHER
Diante da virulência das manifestações e dos saques, as autoridades chilenas decretaram toque de recolher no Chile pelo segundo dia, adiantando o início da medida para as 19h (horário local), em meio à extensão da convulsão social que afeta o país com manifestações violentas e saques.
O presidente Piñera afirmou neste domingo que “a democracia tem a obrigação de se defender”. “A democracia não somente tem o direito, como tem a obrigação de se defender usando todos os instrumentos que entrega a própria democracia e o estado de direito para combater aqueles que querem destruí-la”, afirmou o presidente, após se reunir na sede de governo com os presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado e da Suprema Corte.