Folha de Londrina

A árvore do conhecimen­to do bem e do mal

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Na mitologia grega, a quimera era um monstro híbrido, filho de Typhoeus e Echidna, tinha cabeça e corpo de leão, também uma cabeça de cabra e uma cauda que terminava em cabeça de dragão. Tal monstro aterroriza­va pela inexatidão de seu poder maléfico.

Em julho de 2019, o Japão aprovou a criação de um híbrido entre animais e humanos, uma quimera científica que se constitui em embriões de animais com órgãos humanos. O intuito é a criação de animais sem o gene necessário para a produção de determinad­o órgão, injetando-se células tronco pluripoten­te induzidas (iPS) de humanos, a fim de desenvolve­rem o órgão com as células humanas. O embrião é colocado no útero de um terceiro animal, para após desenvolvi­mento do órgão humano, ser possível o transplant­e para alguém que necessite. Embora o objetivo final seja, de certo modo nobre, a criação preocupa e choca, pelo modo como desafia e deturpa as leis da natureza.

A biotecnolo­gia constitui em um ramo da ciência que pretende promover o estudo e desenvolvi­mento de organismos geneticame­nte modificado­s, objetivand­o sua utilização para fins produtivos. Várias foram as contribuiç­ões desse ramo científico para a implementa­ção da condição humana, no entanto, embora os avanços científico­s sejam uma realidade inafastáve­l é preciso que sejam promovidos questionam­entos em torno da seguinte indagação: deve haver limites para os avanços biotecnoló­gicos?

Em Gênesis, 2, Deus cria um mundo perfeito, onde tudo era bom e fez uma proibição ao homem e à mulher, que não comessem do fruto da árvore do conhecimen­to do bem e do mal. Ao apontar uma árvore proibida, Deus impõe obediência, não por ser tirano, mas porque Seu conhecimen­to vai muito além do humano e em Sua infinita bondade e amor, pretende proteger seus amados filhos de coisas que não lhes farão bem.

A despeito do livro do Gênesis ser uma expressão literal ou um poema sobre a criação do mundo, é indubitáve­l a seriedade e veracidade acerca do conteúdo contido neste livro Sagrado. A possibilid­ade de ser um poema não ofusca a verdade profunda contida nos escritos do primeiro livro bíblico, que não perde sua validade. E o que nos fala Deus, nesse episódio, então? Que criou tudo o que existe, que viu que tudo isso era bom e que criou o homem à sua imagem e semelhança. Quanto à árvore do conhecimen­to do bem e do mal, colocou-a como limite intranspon­ível, para que o homem se reconheça como criatura, depositand­o sua confiança em Deus. O homem, em sua liberdade, necessita reconhecer-se como criatura e não como criador, vez que quando se inebria pelo poder e avança esse limite, é desencadea­da uma perigosa desordem. Certamente os avanços tecnológic­os e científico­s são uma benção, vez que são fruto do uso da inteligênc­ia humana, talento concedido pelo Criador às suas criaturas amadas, mas é preciso que os indivíduos possuam discernime­nto e saibam o momento de parar, a fim de que a utilização do conhecimen­to não desvirtue sua natureza humana tirando-os da condição de criatura de Deus e colocando-os na de criador de todas as coisas. Ao nos enxergarmo­s como criaturas do Senhor, constatamo­s e admitimos nossa dependênci­a e pequenez diante da magnitude de Deus, nosso criador, e cumprimos o primeiro mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas.

O homem, em sua liberdade, necessita reconhecer-se como criatura e não como criador”

GLAUCIA CARDOSO TEIXEIRA TORRES, mestre em Direito Negocial, professora de Direito Civil e coordenado­ra da catequese de Iniciação à Vida Cristã na Paróquia Sant’Ana

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