Folha de Londrina

Corrupção e Natal

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Dia 9 foi o Dia Mundial Anticorrup­ção. É a data em que, há 16 anos, o Brasil assinou a Convenção de Mérida, das Nações Unidas, compromete­ndo-se a combater a corrupção. Por ironia, 2003 era o primeiro ano de um período em que a corrupção foi “institucio­nalizada como forma de governo”, no dizer do ministro do Supremo, Gilmar Mendes. Como a história dá voltas, nesse último dia 9, a data foi comemorada no plenário da Câmara dos Deputados, com uma homenagem ao ministro Sergio Moro, o homem que simbolizou o fim daquela triste era de corrupção. Uma época em que o partido no governo, a maior estatal e a maior das empreiteir­as, centraliza­vam as atividades de uma teia que envolveu governante­s, políticos, estatais e construtor­as.

O coordenado­r da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, diz que este ano foi o que mais apresentou resultados em recuperaçã­o de dinheiro roubado. Já são quase seis anos de investigaç­ões que projetaram o Brasil no mundo. A Petrobras, estados e municípios receberam de volta recursos que haviam sido apropriado­s em ações desonestas. Durante este ano, foram apresentad­as 27 ações contra poderosos, por crimes descoberto­s pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. “A Lava Jato está longe de acabar e ainda está em cresciment­o” – tuitou Dallagnol.

Um dos diretores da Transparên­cia Internacio­nal, Rueben Lifuka, disse que se quisermos salvar o planeta, temos que combater a corrupção. A gente pode aproveitar a frase e dizer que, para salvar o Brasil, precisamos combater a corrupção. E corrupção se combate dissuadind­o os mal-intenciona­dos, os fracos de caráter, com o poder da lei e da Justiça. Só que a lei ainda precisa ganhar mais força, para proteger os inocentes e não os criminosos. E a Justiça precisa pensar no direito que a sociedade tem de afastar de seu convívio os que a violentara­m, violando as leis. Quanto aos criminosos, que se aproveitar­am de seus direitos para lesar direitos alheios, não podem ter direito à liberdade depois da condenação.

Nossos mandatário­s, deputados e senadores, têm nas mãos a oportunida­de de se afinar com a aspiração nacional de acabar com a impunidade e ganhar a segurança de não ser subtraído de seus bens e impostos. O pacote anticrime do ministro Sergio Moro ainda espera que o Senado corrija a desidrataç­ão feita na Câmara. E a prisão em segunda instância está nas mãos do Congresso, para alterar a Constituiç­ão naquilo que permitiu que o Supremo libertasse corruptos e homicidas recondenad­os. O Legislativ­o espera para o ano que vem é desconhece­r a impaciênci­a de eleitores e contribuin­tes e deixar um presente de Natal para aqueles que já estragaram tantos natais de vítimas brasileira­s.

“A Justiça precisa pensar no direito que a sociedade tem de afastar de seu convívio os que a violentara­m”

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