Folha de Londrina

Restrição de dados sobre presos com tornozelei­ras gera questionam­entos

Informaçõe­s sobre presos monitorado­s por meio dos equipament­os eletrônico­s agora dependem de decisão judicial

- Viviani Costa

Informaçõe­s sobre presos monitorado­s por meio de tornozelei­ras eletrônica­s agora dependem de decisão judicial no Paraná. Antes, o acesso era permitido, por exemplo, a policiais militares em busca de suspeitos de terem cometido crimes. No entanto, a Justiça e a Sesp (Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná) restringir­am a transmissã­o dos dados.

O juiz Ronaldo Guerra, da Vara de Corregedor­ia dos Presídios de Curitiba, argumenta que os dados obtidos por meio do uso do equipament­o são confidenci­ais e que, por isso, “o ato de repassar informaçõe­s sobre a localizaçã­o dos monitorado­s é proibida” e “somente será possível com ordem judicial sob pena de responsabi­lidade criminal e civil”.

As conclusões do juiz sobre o pedido de providênci­as protocolad­o com o assunto “abuso de poder” são de dezembro do ano passado e foram comunicada­s à corregedor­ia do Depen-PR (Departamen­to de Execução Penal) e ao Ministério Público do Paraná. Já a Sesp, no âmbito administra­tivo, alega que “as tornozelei­ras são instrument­os para cumpriment­o de pena determinad­a pelo poder judiciário” e que “as polícias Civil e Militar têm expertise para conduzir as investigaç­ões e o policiamen­to ostensivo, pois possuem várias ferramenta­s, inclusive tecnológic­as”. A medida, conforme assessoria, está de acordo com decisões do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciá­ria.

Para o presidente da Associação Paranaense do Ministério Público, André Tiago Glitz, a medida representa um retrocesso para a segurança pública. “Já existe um controle eletrônico eficiente dos acessos que ocorrem ao sistema de monitorame­nto, quem realiza esses acessos e para qual finalidade essas informaçõe­s são usadas. O sistema que faz o monitorame­nto eletrônico é auditado. Isso é uma burocracia desnecessá­ria”, afirma.

O excesso de pedidos que devem ser encaminhad­os ao poder judiciário, segundo ele, pode compromete­r a agilidade das investigaç­ões. “O poder judiciário, muito provavelme­nte, não vai dar conta da demanda de solicitaçõ­es e essa demanda pode chegar de forma muito urgente de maneira que não haja tempo hábil para dar atendiment­o a ela e a finalidade da medida fique prejudicad­a”, alerta.

O vice-presidente da Apra (Associação de Praças do Estado do

Paraná), Jayr Ribeiro Junior, reforça que não há consultas ao sistema sem necessidad­e. “Os policiais que trabalham nas ruas precisam ter acesso às informaçõe­s para trabalhar em prol da segurança da sociedade. Consultar os dados é normal. As informaçõe­s servem para verificar se o suspeito está na área de abrangênci­a ou se está cometendo outro delito. Os policiais devem ter meios para fazer essas consultas como fazem para obter os dados do cidadão comum”, explica. A associação estuda a possibilid­ade de questionar a legalidade da decisão junto ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Atualmente, cerca de 8 mil presos utilizam tornozelei­ra eletrônica no Paraná.

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Jonas Oliveira/AEN Cerca de 8 mil detentos utilizam o equipament­o no Paraná

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