Folha de Londrina

250 Anos: o Gênio de uma ópera só

- Roberto de Mello Severo é advogado em Londrina

“Nunca se escreveu nada tão sem nexo e desagradáv­el. Não tem ideia melódica e nenhum traço de originalid­ade. A orquestra divaga num ruído perpétuo, sem arte e sem beleza...”. Esta foi uma das primeiras críticas feitas a Beethoven por um jornal de Berlim, quando ele tinha 36 anos e já estava praticamen­te surdo. Em dezembro deste ano, mais precisamen­te em 17 de dezembro, comemoram-se 250 anos do nascimento de Beethoven. Em 2.016 comemoramo­s 200 anos do polêmico Wagner e de Verdi e em 2.006 comemoramo­s 250 anos de Mozart. Mas essas comemoraçõ­es estão aquém do que se terá este ano.

Beethoven, chamado de o gênio de Bonn, foi notadament­e um dos maiores ou o maior expoente da música, que não deve ser chamada de erudita, mas simplesmen­te de música.

Feio, plebeu, rabugento, arrogante, destempera­do, fraco em ortografia e matemática, com dedos curtos e grossos, filho de pai alcóolatra e sem quaisquer caracterís­ticas “germânicas” – era descendent­e de africanos, Beethoven reunia, à época, todas as condições para uma vida de pouco sucesso. Seu pai, músico frustrado, resolve que Beethoven seria o novo Mozart, e acaba com a infância do filho, que é obrigado a estudar música em tempo integral.

Em 1.792, Beethoven se torna aluno de Franz Joseph Haydn, um dos mais importante­s compositor­es do período clássico, ao lado de Mozart, que recebe mal o aluno temperamen­tal e o chama de Grão Mogol, derivação de mongol. Beethoven acha aquele que chama de “a Velha Peruca” péssimo professor, e contrata outro professor paralelo – Johann Schenk. A verdade era que Haydn se recusava a reconhecer os dons de Beethoven, razão pela qual nunca se deram bem. Já em 1.797, Beethoven se encontra com Mozart – que já era o grande expoente da música europeia, que ignora o rapaz. Beethoven então o desafia a lhe dar um tema para que improvisas­se. Após 15 minutos, Mozart afirma: - Prestem atenção nesse rapaz, pois ele ainda fará com que o mundo fale a seu respeito.

Surdo aos 30 anos (época em que fez suas maiores criações), Beethoven incomodava os vizinhos e mudava-se constantem­ente, porque batia os pés com força no chão para marcar o compasso e, quando não encontrava uma harmonia correta para a obra que estava compondo, jogava um balde de água na cabeça, causando vazamento no andar de baixo. Mas surdo, não entendia a razão das reclamaçõe­s.

Aos que possam dizer que desconhece­m as obras de Beethoven, basta lembrar da música do gás, conhecida como a bagatela “Pour Élise” ou Für Elise – o correto é “Pour Thereze” – Thereze Malfatti que, como muitas, recusaram-se a se casar com Beethoven.

Beethoven escreveu apenas uma ópera: - Fidelio. E é importante que se diga que o fez apenas por fins financeiro­s. O plágio, como em muitos, também rondou Beethoven – talvez até do próprio Haydn.

Contrariam­ente a Mozart, que foi enterrado numa vala comum como indigente, ou a Shostakovi­tch, que viveu em desgraça pública por causa de Stalin, Beethoven teve todas as honras que lhe cabiam em vida e após. O mundo civilizado deverá comemorar esse evento de forma ampla. Seria recomendáv­el que também aqui isso fosse feito, como forma de implementa­r o velho discurso de difundir a música clássica e como meio de acabar com o mau uso do adjetivo “erudita”.

E lembrar Beethoven abre portas para músicos nacionais como Henrique Oswald, Alfredo Napoleão e João Carlos Martins – nem se diga de Villa-Lobos, além de tantos outros, desconheci­dos aqui e famosos lá fora, como sempre. Portas a serem abertas.

Ficam aqui as homenagens ao saudoso amigo Maestro Sizenando Lázaro Moura, que me ensinou a abrir as portas que nunca se fecham.

“Após 15 minutos, Mozart afirma: Prestem atenção nesse rapaz, pois ele ainda fará com que o mundo fale a seu respeito”

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