Folha de Londrina

Democratas fajutos

- Almir Rodrigues Sudan é advogado e economista em Londrina

Criou-se o mantra de que quem critica o atual governo é comunista, petista e cidadão contrário ao Brasil, ofensa que se estende aos meios de comunicaçã­o – jornais; revistas e televisões. Isso se tornou uma vesânia de pessoas que se imaginam cultas e foram abduzidas por uma farsa. O fato de um país possuir partidos de esquerda não quer dizer que seja de esquerda, assim como o fato de alguém criticar um governo não o torna um comunista.

No Brasil, o pluriparti­darismo está previsto no artigo 17, da Constituiç­ão Federal, e nele se incluem os partidos de esquerda. E qual é o problema de alguns cidadãos optarem por ser de esquerda? Muitos não optaram por ser de direita? Outros não optaram por serem neutros? Eu, por exemplo, optei por ser de centro-direita.

Um garimpo rápido pelo mundo nos dá a visão clara de que um governo de esquerda realmente não torna o país de esquerda. A França foi governada entre 1981 e 1995 por François Miterrand, socialista de raiz, que nos primeiros quatro anos de mandato esteve coligado ao Partido Comunista, seu parceiro eleitoral. Ivry-Sur-Seine, cidade ao lado de Paris é governada ininterrup­tamente há mais de 80 anos pelos comunistas, que respeitam sua tradição democrátic­a e capitalist­a. Jamais a França, e Ivry-SurSeine, em especial, se tornaram socialista ou comunista, e se mantiveram sempre prósperas. A Espanha foi governada entre 1982 e 1996, também por 14 anos como a França, por Felipe González, do Partido Socialista Operário Espanhol, outro socialista de raiz. Seu governo mudou a Espanha perante o mundo de forma sensaciona­l. A Espanha não foi, e não é, um país socialista!

Entre 1983 e 1987 a Itália foi governada por Bettino Graxi, do Partido Socialista Italiano, o mais longevo primeiro-ministro da Nova República, e o país não se tornou socialista. O governo do Partido dos Trabalhado­res (2003-2016), de triste memória, também não tornou o Brasil um país comunista. Nos Estados Unidos, o Partido Democrata, de Franklin Roosevelt e Barak Obama, é alinhado à tradição da esquerda democrátic­a, que defende políticas sociais assistenci­alistas; a intervençã­o estatal na economia e bandeiras de movimentos sociais, como a dos negros, habitações populares, gays; imigrantes latinos etc. Lembram-se do programa “Obamacare”, de saúde, e do “pé na água, pé no chão”, dos imigrantes? Isso mostra que a França, Espanha, Itália, Brasil e EUA, mesmo governados por matrizes socialista­s ou comunistas, e o último com viés de esquerda democrátic­a, nunca se tornaram socialista­s ou comunistas. Eram e permanecem como nações prósperas, democrátic­as e capitalist­as. Os que não admitem o pluriparti­darismo, e não respeitam a crítica, seja ela de quem ou qual for, são democratas fajutos, aprendizes medíocres de ditador.

E mais: apoiar o fechamento do Congresso Nacional e da Suprema Corte como fazem muitos desses intolerant­es, os identifica claramente como néscios, pois o culpado pelo Congresso atual é o povo que o elegeu, e a Corte Suprema funciona sob o manto da Constituiç­ão Federal. Não imaginam as consequênc­ias de um golpe de Estado dessa natureza, em especial o comprometi­mento das relações internacio­nais, o rompimento e a suspensão de acordos comerciais e de ajuda, e a queda nas exportaçõe­s, dentre tantos outros, além de mostrar ao mundo que ainda somos uma República de bananas. Ou acham que o mundo irá aplaudir? Se realmente desejam intimidar quem critica o governo, fechar o Congresso Nacional e a Suprema Corte, ou varrer os partidos de esquerda, que façam uma fogueira pública e queimem a Constituiç­ão Federal, e tenham vergonha não só dessa ignomínia, desse vitupério, mas do voto que deram naquelas porcarias que integram o Congresso Nacional. E aprendam a votar!

“Os que não admitem o pluriparti­darismo, e não respeitam a crítica, seja ela de quem ou qual for, são democratas fajutos”

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