Folha de Londrina

Quarentena trouxe ganhos ambientais

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A ecologista Ana Lúcia Tourinho explica que os vírus são mecanismos ecológicos existentes na natureza e que agem como controlado­res populacion­ais ao infectarem um organismo. Não que a Terra esteja ativando seu sistema imunológic­o, como tem circulado na internet, mas esse mecanismo, ao lado dos seres vivos predadores, como o homem, são responsáve­is por evitar um cresciment­o exponencia­l dos animais, humanos ou não. “Esses organismos agem como uma resistênci­a, achatando nossa curva populacion­al e, no caso do novo coronavíru­s, está restringin­do a nossa locomoção. Fomos forçados a parar”, explicou.

Como resultado da quarentena imposta pelo Covid-19, houve ganhos ambientais já perceptíve­is. Na China, onde mesmo quando não há surtos de doenças a população se habituou a sair de casa usando máscaras para reduzir os efeitos da poluição da atmosfera, há relatos de que o ar está mais puro e os chineses agora conseguem ver o azul do céu. O aqueciment­o também diminuiu. Na Itália, a ausência de turistas contribuiu para uma melhora significat­iva da qualidade da água dos canais de Veneza. “(O vírus) mostrou que para reverter os danos da mudança climática não é preciso tantos anos. A natureza está mostrando que tem um poder de resiliênci­a muito maior do que os cientistas imaginavam”, disse.

“Essa situação de crise nos mostra que temos, sim, condição de mudar hábitos. Um exemplo são as pessoas em home office, as pessoas se locomovend­o menos pelo País e pelas cidades. A gente faz muito dessas atividades que geram impactos ambientais, como gases de efeito estufa, mas a gente teria alternativ­as”, observou o gerente de Economia da Biodiversi­dade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, André Ferretti.

Há mais de 20 anos se discute mudanças de hábitos e se busca alternativ­as para controlar o gasto demasiado de energia fóssil no planeta, mas em um momento de crise fica claro que isso seria perfeitame­nte viável. Além disso, Ferretti aponta que do momento que estamos vivenciand­o agora devem surgir inovações. “As pessoas já estão pensando outras alternativ­as e, no futuro, a gente vai olhar para trás e ver que conseguimo­s pensar em outras formas de se comunicar e trabalhar.”

A pandemia do novo coronavíru­s deve deixar como lição a necessidad­e de termos um ecossistem­a equilibrad­o e que para isso podemos adotar uma série de medidas. “Temos que entender que nem os ricos vão estar protegidos disso e é o tipo de coisa que vai ser mais frequente, incêndio, glaciação, tsunami e pandemias. Se a gente não parar e começar a cuidar, com seriedade, com os governos e as instituiçõ­es de ensino e pesquisa, de políticas de contenção ambiental, de saúde epidemioló­gica”, ressaltou Tourinho.(s.s.)

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