‘Calmaria’ exige atenção no tráfego
Movimento pequeno em ruas e avenidas pode ser palco para aumento do desrespeito às leis de trânsito
Enquanto os dois primeiros meses de 2019 registraram aumento de mais de 18% no número de mortes no trânsito em Londrina, em comparação com o mesmo período do ano anterior, já é possível inferir que o mês de março poderá apresentar uma queda no número de autuações por conta do isolamento social trazido com a pandemia de coronavírus. Para se ter uma ideia, a Uber divulgou que a demanda por corridas caiu, em média, 70% em várias cidades do mundo. Em Londrina, estimase que a queda tenha sido de 80% no movimento, segundo representantes de motoristas ouvidos pela reportagem.
No entanto, mesmo com os principais centros urbanos do País parados com o intuito de frear a transmissão do covid19, a tranquilidade nas ruas em dias úteis pode aumentar a
“confiança” de algumas pessoas que ainda precisam se deslocar com o veículo próprio em avançarem a preferencial ou desrespeitarem o sinal vermelho. Outro fator que pode tornar mais perigosa uma simples ida à farmácia ou ao supermercado é justamente deixar que as inúmeras preocupações causadas pela doença, sejam com relação aos sintomas ou de ordem financeira, tirem completamente o foco dos condutores.
O diretor de Trânsito da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização), Sérgio Dalbem, concordou com a percepção da reportagem de que muitos motoristas de Londrina estão se sentindo à vontade para não respeitarem a sinalização de trânsito neste período em que o movimento lembra dias de domingo ou feriados prolongados em municípios pequenos. E lembrou que com as avenidas “vazias” muitos acabam aproveitando para abusar da velocidade.
“Da mesma forma que ele acha que está tranquilo o trânsito, o outro que está na mão certa pode estar trafegando em uma velocidade um pouquinho maior pensando que vai passar tranquilo e aí o choque pode ser até mais violento do que no dia a dia, quando se tem um fluxo maior e as pessoas se preocupam mais”, avaliou.
A combinação perigosa entre falta de atenção e imprudência citada pelo diretor ocorreu na tarde desta segunda-feira (23) em uma rotatória na região da barragem do Lago Igapó envolvendo dois carros. Também nesta semana, um vídeo gravado de dentro de um veículo que trafegava pela contramão no centro de Londrina “viralizou” em grupos de Whatsapp. Na gravação, duas jovens aparentemente embriagadas demonstram que não estão nem um pouco incomodadas em causarem um transtorno aos outros motoristas.
Entretanto, irresponsabilidades como esta ainda são raras de se ver pelo menos nas principais ruas e avenidas de Londrina. O excesso de velocidade é, de acordo com a CMTU, ainda a principal infração cometida pelos londrinenses, seguida por avançar o sinal vermelho. Somente no primeiro bimestre deste ano, 9.143 multas por trafegar com velocidade até 20% acima do limite foram registradas. E houve aumento de 50% nas mortes por atropelamento nos dois primeiros meses do ano em comparação com 2019, quando três óbitos foram registrados.
Das dez mortes registradas no trânsito em 2020, cinco foram de motociclistas. Mesmo assim, não é possível afirmar que ocorreram exclusivamente por conta da expansão dos serviços de entrega de alimentos via aplicativos na cidade.
“Até nós demos uma analisada e não temos como afirmar que foi devido às festas, pessoas envolvidas, enfim, mas, coincidentemente foram nos dez dias próximos ao Carnaval. Houve um aumento considerável nas chamadas (de delivery), mas o interessante é que neste tipo de acidente, acredito que em dois ou três havia a sacola de entrega, e nos demais não”, avaliou.
Entretanto, com mais profissionais nas ruas buscando o sustento das próprias famílias, não é raro constatar situações em que os entregadores abusam da sorte. Até o final de 2019, somente as três principais empresas do setor no Brasil - ifood, Rappi e Loggi possuíam juntas mais de 172 mil profissionais cadastrados em todo o País. Um número que pode ter sofrido alterações com o aumento da demanda por entregas e se a expectativa de crescimento no desemprego se confirmar no País.