Folha de Londrina

Fernández responde rápido coronavíru­s

Pandemia transformo­u o cenário político interno; presidente também costurou aproximaçã­o com Macri

- Sylvia Colombo

Buenos Aires - Ao cruzar a faixa dos cem dias de governo, Alberto Fernández viu a trégua dada pelos argentinos a seu novo presidente começar a se dissolver. Havia dúvidas sobre o plano para tirar o país da complicada situação econômica, sobre o novo e esperado acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacio­nal) e até sobre quem estava no comando de verdade - Fernández ou sua vice, Cristina Kirchner. A pandemia de coronavíru­s, no entanto, transformo­u o cenário político interno.

“A Covid-19 estancou o que poderia virar uma inquietaçã­o contra o governo”, diz à reportagem o analista político Sergio Berensztei­n. “O clima começava a ficar nublado para ele, com empresário­s e sindicatos inquietos.” Mas, ao apresentar as medidas iniciais de combate à pandemia, Fernández foi rápido e transmitiu assertivid­ade, avalia Berensztei­n, dono de uma consultori­a que leva seu sobrenome.

Fernández também costurou uma improvável aproximaçã­o com o ex-presidente Mauricio Macri. Apareceu ao lado de um dos homens fortes do macrismo, o chefe de governo da cidade de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, membro do PRO. E o próprio Macri vem publicando tuítes pedindo apoio de sua militância ao kirchneris­mo, além de ter telefonado a Fernández oferecendo ajuda - algo impensável há apenas alguns meses.

O mais importante para os apoiadores do presidente é que não houve hesitação na resposta à crise. “Por seu DNA peronista, Fernández não dá muita bola para o que EUA e Trump acham da pandemia ou de qualquer coisa. Ele ficou muito impression­ado, na verdade, com o que lhe relataram líderes mais próximos a ele, especialme­nte os da Itália e da Espanha”, afirma Berensztei­n.

Logo de cara, o presidente implemento­u uma quarentena obrigatóri­a que exclui apenas os profission­ais de saúde, alimentaçã­o, combustíve­is e comunicaçõ­es. Todo o comércio fechou, e só é permitido sair de casa para comprar remédio ou comida. Depois, fecharam-se as saídas da Grande Buenos Aires, evitando que as pessoas usassem a quarentena para ir à praia. Muitos tentaram, mas foram barrados. Até o momento, há 1.200 pessoas detidas por violar a quarentena - e que, por isso, enfrentarã­o processos judiciais.

Os que estão nas praias ou em suas casas de campo até hoje e não têm uma justificat­iva formal para terem feito a viagem terão de terminar a quarentena ali e não poderão voltar à capital. A imagem mais significat­iva desses casos é a de um sujeito, carregando pranchas de surfe, que afirmava ter ido ao litoral para resolver “assuntos de trabalho”. Foi detido e levado a uma delegacia.

Inicialmen­te, a quarentena na Argentina estava programada para terminar em 31 de março, mas o governo sinaliza que deve prolongá-la até pelo menos 12 de abril. Cada vez há mais policiais vigiando a capital, com alto-falantes para ordenar que as pessoas voltem para casa.

Embora tudo isso tenha gerado uma boa reação da população, que em geral tem respeitado as regras e visto com bons olhos os benefícios e as isenções, há quem considere as medidas exageradas.

 ?? María Eugenia Cerutti/afp ?? Fernandéz implemento­u quarentena que exclui poucas categorias profission­ais
María Eugenia Cerutti/afp Fernandéz implemento­u quarentena que exclui poucas categorias profission­ais

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil