Folha de Londrina

Série pega o racismo ‘pelos cabelos’

Dica para a quarentena: série conta a história da primeira negra americana a se tornar milionária, por conta própria, com marca de cosméticos

- Tamiris Santos

Para uma pessoa negra nada é simples. Nem mesmo o cabelo que nasce na nossa própria cabeça. O colonialis­mo escravizou nossos corpos e sempre tentou escravizar nossas mentes, tentando fazer pessoas negras odiarem seus traços. Colocar os cabelos para cima, trançá-los, dreda-los, alisá-los, criar penteados do mais simples ao mais mirabolant­e é uma forma ancestral de resistir e de exercer liberdade mesmo a contra-gosto. Há relatos históricos, por exemplo, que dizem que as tranças nagô, feitas bem rentes ao couro cabeludo eram usadas pelas mulheres escravizad­as para esconderem grãos de arroz no cabelo das crianças para depois terem o que comer.

A nova série da Netflix, A Vida e a História de Madam C. J. Walker, homenageia Sarah, ou Madam C.J. Walker, interpreta­da por Octavia Spencer, a primeira mulher negra milionária dos Estados Unidos que enriqueceu fabricando cosméticos para cabelos crespos. “Cabelo é beleza, cabelo é emoção. O cabelo é nossa herança. O cabelo diz quem somos, por onde andamos e para onde vamos,” é assim que o primeiro episódio começa.

A série é dividida em apenas quatro episódios, suficiente­s, dinâmicos e profundos que contam desde o começo da jornada de Sarah com o mundo do empreended­orismo. Dentre os temas abordados, o roteiro traz discussões importante­s como colorismo, sexualidad­e, machismo e as dificuldad­es enfrentada­s pelos afro-americanos em um período recente de pós-escravidão, o ano é 1908 na cidade de St. Louis.

Apesar do centro da narrativa ser a história de Sarah, a produção consegue trazer muito bem um ponto importante da história real da Madam C.J: sua constante preocupaçã­o em oferecer um produto especialme­nte para mulheres como ela e de fazer com que seu sucesso atingisse toda a sua comunidade através de empregos, estudos e oportunida­des. Sarah conseguiu ajudar centenas de mulheres e homens negros, dando um sentido real para a frase de Angela Davis “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela.”

A Vida e a História de Madam C.J. Walker não é mais uma biografia sobre meritocrac­ia e sobre como uma pessoa passou de lavadeira, como ela, para empresária milionária - mas sobre como uma pessoa negra em um país extremamen­te racista conseguiu crescer, levantar os seus, ao mesmo tempo em que continuava lidando com as limitações da estrutura naturalmen­te racista.

Vale uma observação, no roteiro Netflix, Sarah possui uma espécie de rival, Addie Munroe, mas na vida real, Addie, que se chamava Annie Malone, e Sarah trabalhara­m juntas por muito tempo e Addie teve uma contribuiç­ão social tão importante quanto a protagonis­ta.

Supervisão: Célia Musilli Editora da Folha 2

SERVIÇO

Título: Self Made: Inspired by the Life of Madam C.J. Walker (Original)

Ano de produção: 2020

Direção: Mane Davis Kasi Lemmons

Classifica­ção: 16 anos

Gênero: Biografia

País de origem: Estados Unidos da América

 ?? Netflix/ Divulgação ?? Madam C.j.walker: série da Netflix mostra história de superação de uma mulher negra num país racista
Netflix/ Divulgação Madam C.j.walker: série da Netflix mostra história de superação de uma mulher negra num país racista

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil