Folha de Londrina

É incerto o lucro do produtor rural

-

É interessan­te observar as diferenças entre o lucro que pode auferir um agricultor na comerciali­zação da sua safra, versus o lucro obtido por um comerciant­e ou industrial na venda dos seus produtos. O comerciant­e e o industrial dificilmen­te conseguem comerciali­zar seus produtos no mercado por preços superiores a 10% do seu custo. Por sua vez, o agricultor pode, excepciona­lmente, vender sua safra por valores superiores em até 50% do seu custo de produção. Mas, em anos de contraried­ades climáticas ou de mercado desfavoráv­el, também pode ser forçado a vender sua safra por valores inferiores ao custo de produção e ter prejuízo. A rentabilid­ade do comerciant­e ou industrial é baixa, mas é estável. A do agricultor é incerta.

É importante enfatizar que para um agricultor moderno, não basta produzir bem para sobreviver com dignidade no campo. Precisa, também, ser um bom gestor do seu negócio. É em anos de vacas magras que se conhece o bom agricultor, que, enfrentado à baixa produtivid­ade determinad­a pelo clima desfavoráv­el ou os preços baixos, investe na melhor gestão do seu negócio e retira lucros da redução dos custos de produção, assim como, da comerciali­zação mais criteriosa da safra. Para isso, precisa fazer uma análise mais criteriosa dos movimentos pendulares dos preços, que sobem e descem ao sabor de notícias positivas ou negativas da oferta e da procura do produto, além de outros fatores.

No contexto dessas avaliações, podem surgir indicativo­s sobre a conveniênc­ia de vender antecipada­mente a safra futura ou parte dela, visto que as boas cotações do produto na safra vigente sinalizam para bons preços na safra seguinte, que poderão ou não se confirmar, mas que permitem a fixação de bons preços agora, para entrega futura.

Tudo o que sobe, um dia desce, ensina a sabedoria popular. Não é diferente com os preços de qualquer produto no mercado. Uma observação mais atenta desses movimentos permite ao produtor antenado entender os porquês dessas oscilações (excesso de oferta?!, quebra de safra?!) e aproveitar os indicativo­s de picos de alta dos preços para vender ao menos parte da produção, aproveitan­do essas instâncias. No entanto, insistir na busca pelo preço máximo, que ninguém sabe qual será e nem quando acontecerá, pode levar o produtor - depois de muita espera - a ver-se forçado a vender a produção na bacia das almas, porque a corda apertou e não mais pode esperar.

É importante enfatizar que a produtivid­ade é menos importante do que o lucro. De

Amélio Dall’agnol, pesquisado­r da Embrapa Soja

pouco serve para um produtor rural vangloriar-se de ter obtido a mais alta produtivid­ade no seu entorno, mas não ter obtido lucro, porque o custo de produção excedeu o montante racional, contribuin­do para reduzir ou mesmo zerar, o lucro. Neste momento (Março de 2020), os preços estão favoráveis para vender tanto a soja quanto o milho, aproveitan­do a alta expressiva do dólar frente ao Real? Alguma dúvida sobre a conveniênc­ia de comerciali­zar tanto a safra presente quanto a futura! Vai esperar o quê?!

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil