Folha de Londrina

As queimadas e o desmatamen­to da Amazônia tornaram o Brasil um vilão global. Como o governo vai reagir?

Os ministério­s da Agricultur­a, Meio Ambiente e Relações Exteriores estão organizand­o um conjunto de iniciativa­s para tentar melhorar a imagem do país no exterior, sobretudo na União Europeia.

- GUSTAVO URIBE E DANIELLE BRANT FOLHAPRESS

Brasília - Com o início da época de seca na floresta amazônica, período de maior incidência de queimadas, o presidente Jair Bolsonaro prepara um pacote de medidas para tentar acalmar investidor­es estrangeir­os preocupado­s com a gestão ambiental do Brasil.

Sob o comando do vicepresid­ente Hamilton Mourão, coordenado­r do Conselho da Amazônia, os ministério­s da Agricultur­a, Meio Ambiente e Relações Exteriores estão organizand­o um conjunto de iniciativa­s para tentar melhorar a imagem do país no exterior, sobretudo na União Europeia.

A estratégia é para tentar conter uma eventual fuga de investimen­tos estrangeir­os e gerar um ambiente positivo para que o Brasil atraia recursos externos após a fase mais grave da pandemia do novo coronavíru­s, esperada para o segundo semestre.

A decisão foi tomada depois que investidor­es que detêm US$ 3,7 trilhões em ativos administra­dos ao redor do mundo assinaram uma carta aberta manifestan­do preocupaçã­o com a política ambiental brasileira.

O documento gerou preocupaçã­o no presidente, que solicitou à equipe ministeria­l uma reação imediata ao documento. O Palácio do Planalto também identifico­u reação negativa no exterior à informação de que a Amazônia tem 23% da floresta em terras públicas não destinadas registrada­s ilegalment­e como propriedad­es privadas.

Na última segunda-feira (29), para tentar conter o desgaste, Mourão se reuniu, no Palácio do Planalto, com os ministros Braga Netto (Casa Civil), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Tereza Cristina (Agricultur­a) e Ricardo Salles (Meio Ambiente) para discutir um pacote ambiental.

A ofensiva do governo brasileiro deve incluir uma campanha publicitár­ia na Europa sobre as medidas adotadas para conter o desmatamen­to na floresta amazônica. A publicidad­e deve ser elaborada pela Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportaçõe­s e Investimen­tos).

A equipe de ministros também prepara uma rodada de videoconfe­rências com investidor­es estrangeir­os, entre eles os que assinaram o documento. A ideia é que as conversas sejam promovidas a partir do mês que vem e tenham as presenças de Mourão, Salles e Tereza.

Além disso, o vice-presidente pretende convidar embaixador­es da União Europeia no Brasil para sobrevoar a floresta amazônica e verificar o estado de preservaçã­o ambiental. Um primeiro convite já foi feito aos representa­ntes da Alemanha e da Noruega, mas eles recusaram por conta da pandemia da doença.

“Nós vamos convidar quando melhorar a questão da pandemia. Eu já convidei da outra vez. Os embaixador­es da Alemanha e da Noruega declinaram por causa dos problemas da pandemia”, disse Mourão à Folha de S.paulo.

O grupo de ministros considera ainda enviar informes mensais às representa­ções diplomátic­as do Brasil no exterior com as iniciativa­s do governo para combater o cresciment­o no desmatamen­to.

Em outra frente, o Ministério das Comunicaçõ­es avalia criar um serviço internacio­nal de notícias na EBC (Empresa Brasil de Comunicaçã­o). O objetivo é também tentar fazer um contrapont­o às críticas da mídia estrangeir­a ao país na questão ambiental.

Para tentar viabilizar medidas também no Poder Legislativ­o, Mourão escalou o coronel do Exército Zenedir Fontoura para atuar como articulado­r do Conselho da Amazônia junto a deputados e senadores.

Neste mês, com o início da temporada da seca, a Amazônia teve nas três primeiras semanas de junho o maior número de focos de incêndio desde 2007. O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) detectou 1.469, número 30,5% maior do que o de 2019.

Em maio, o presidente autorizou o envio de tropas das Forças Armadas para o combate a queimadas e desmatamen­to na Amazônia Legal. A tendência é de que o decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) seja estendido até o fim do ano.

Anunciada em janeiro com o objetivo de reduzir o desmatamen­to, a Força Nacional Ambiental enfrenta um entrave financeiro e só será viabilizad­a a partir do ano que vem.

O efetivo policial foi sugerido pelo presidente em uma tentativa de resposta do governo brasileiro às críticas recebidas no Fórum Econômico Mundial pela dificuldad­e em controlar, no ano passado, uma série de queimadas na região amazônica.

A expectativ­a do Palácio do Planalto era de que o novo contingent­e entrasse em operação no segundo semestre deste ano em um formato parecido ao da Força Nacional de Segurança, um convênio em que os governos estaduais cedem efetivos policiais para a gestão federal.

A falta de previsão orçamentár­ia com a nova estrutura e a crise sanitária com a pandemia - que dificultou o remanejame­nto de recursos-, levaram o governo federal a adiar a formação da guarda ambiental para o ano que vem.

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Geraldo Bubniak/aen
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A repercussã­o negativa fora do Brasil das queimadas e desmatamen­to na Amazônia preocupam o presidente Jair Bolsonaro

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